O porquê algumas pessoas gostam ou não de coentro, ou o porquê algumas são mais produtivas a noite do que de dia foram questões solucionadas após o desenvolvimento do estudo sobre a genética humana. Hoje, um dos principais desafios é como interpretar estas informações e oferecer uma medicina personalizada, que poderá ajudar em uma melhor conduta médica e farmacológica no tratamento de doenças.
Foi pensando nisso, que Suzane Kioko Ono, hepatologista e professora da Faculdade de Medicina (FM) da USP, em parceria com outros pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, realizaram um estudo que buscou entender como as variações do sequenciamento do DNA (polimorfismos) encontradas em amostras de 100 pacientes do Brasil podem representar o primeiro passo para o mapeamento da genética brasileira na resposta de tratamentos farmacológicos.
Polimorfismos e testes genéticos
Os polimorfismos podem explicar a resposta ou não a um determinado tratamento, síndromes ou reações graves a depender do medicamento utilizado. Dessa forma, diferentemente de estudos realizados em países europeus ou asiáticos, que possuem populações mais homogêneas, a análise do ‘genes brasileiro’ ajuda na compreensão da lenta ou rápida metabolização de determinados medicamentos e oferta de um tratamento adequado.
Assim, com o barateamento dos custos para mapeamento genético, a realização de testes se tornou mais acessível e a farmacogenética surgiu como uma forma de juntar a medicina e a farmácia, para entender os efeitos dos medicamentos no corpo humano e proporcionar um melhor tratamento dos pacientes clínicos.
Entretanto, a Suzane destaca: “A existência de um polimorfismo não implica diretamente no fenótipo. Isso significa que, uma pessoa com genes de maior risco para um determinado câncer não necessariamente desenvolverá a doença, pois existem diversos outros fatores além da genética.”
Desse modo, a FDA (U.S. Food and Drug Administration), responsável pela regulamentação de produtos farmacêuticos, alimentícios, cosméticos e outros, apenas aprova teste genético para 139 dos mais de 400 medicamentos possíveis. Suzane explica que essa filtragem ocorre pois, uma vez que o polimorfismo é identificado, devem ser consideradas diversas variáveis como a frequência deste incidente da população, a influência no metabolismo da droga, o impacto na prescrição clínica e estudos com número de pessoas suficiente.
Assim, caso todos os requisitos metodológicos sejam preenchidos e tenham estudos suficientes, é possível que se mude a conduta médica aplicada até então.
Contribuições da inteligência artificial para novos estudos
Reconhecendo a dificuldade para coleta e análise destas informações, o uso de inteligência artificial se mostra um caminho próspero para que novas pesquisas sejam feitas através do processamento e síntese dos milhares de dados necessários.
Como uma promissora ferramenta da bioinformática, é possível que novos estudos referentes às respostas do genes brasileiro a diversos tratamentos médicos surjam e colaborem para a compreensão das especificidades da população brasileira. “Acredito que com a expansão do uso da inteligência artificial e o estudo da ciência de dados, haja o aceleramento da obtenção de novos resultados”, finaliza Suzane Ono. Vale ressaltar que estas pesquisas são o primeiro passo para uma vasta jornada na busca por evidências científicas adequadas e suficientes.
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