
O Brasil é o segundo país com maior número de casos de hanseníase no mundo, atrás apenas da Índia, de acordo com um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde em 2020. Ainda muito negligenciada e estigmatizada, a doença afeta os nervos e a pele e é causada por um bacilo chamado Mycobacterium leprae.
Uma das formas de quimioprofilaxia que pode ser aplicada para um maior controle dessa urgência sanitária trata-se do antibiótico rifampicina, já recomendado pelas Diretrizes de Diagnóstico, Tratamento e Prevenção contra a Hanseníase da Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, a prática ainda não é aprovada pelo Ministério da Saúde no Brasil, na medida em que se exigem maiores evidências sobre sua eficácia e efeitos.
Contribuição acadêmica
Diante desse cenário, a Escola de Enfermagem (EE) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a organização internacional de pesquisa Joanna Briggs Institute (JBI), da Universidade de Adelaide, na Austrália, desenvolveram um estudo sobre a quimioprofilaxia, a fim de gerar evidências sobre o seu uso e justificar o investimento público na área. “A argumentação foi que, para conseguirmos recursos direcionados à rifampicina, precisamos de evidências mais robustas”, ressalta Juliana Takahashi, bibliotecária auxiliar da pesquisa na EE.
Silvana Benevides, membro da organização JBI e pesquisadora, liderou o estudo intitulado Eficácia da quimioprofilaxia rifampicina em prevenir casos de lepra em pacientes de contato: uma revisão sistemática de evidências quantitativas e qualitativas em 2017 sob a orientação da professora Cássia Baldini Soares. Silvana explica que o medicamento se apresenta como uma alternativa que impactaria de forma altamente positiva frente à urgente situação do País. Além disso, a medicação também apresentou uma alta aceitabilidade pela sociedade.
Com uma extensa carreira na enfermagem prática também, especialmente, ligada ao tratamento de casos de hanseníase e tuberculose, Silvana destaca o papel dessa vivência para a escolha e início da pesquisa. A pesquisa se baseou na revisão sistemática da quimioprofilaxia da rifampicina, foi consagrado ao servir como base para as recomendações da OMS acerca da hanseníase.
Quimioprofilaxia da hanseníase
Silvana comenta que a quimioprofilaxia se estabelece a partir da utilização de um medicamento com o objetivo de prevenir casos da doença em ‘contatos domiciliares’ e, assim, reduzir a incidência da doença. “Contatos de hanseníase são pessoas que convivem no mesmo domicílio que o paciente que está com hanseníase ou está virgem de tratamento ou já em tratamento. Então ele é contato domiciliar”, explica a líder da pesquisa.
O uso profilático do antibiótico rifampicina também é um dos aspectos criticados pelos mais refratários, segundo Roberta, uma vez que se trata de uma medicação antes dos sintomas se apresentarem. A Mycobacterium leprae é um patógeno que a maioria das pessoas consegue adquirir uma imunidade natural, e aproximadamente 5% dos contágios vão evoluir para um quadro de doença. Com o auxílio da rifampicina, Roberta explica que o sistema imune da pessoa é estimulado para um melhor controle.
“Como pesquisadora e enfermeira, acho que tudo vale quando diminui o sofrimento dos pacientes. Então, precisamos que os estudos avancem e a nossa equipe está trabalhando em busca disso”, afirma Silvana.
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