Discussões sobre o uso de tecnologia na Educação foram levantadas no contexto pandêmico e, apesar de ser uma tendência, um estudo mostrou que as escolas mais eficientes do Brasil desfrutam do habitual, mas extraordinário caderno e lápis. A eficiência dos gastos na Educação Fundamental pública brasileira foi foco de uma pesquisa de Mestrado e revelou que os municípios com melhores quocientes educacionais, como notas escolares boas, não necessariamente são os mais ricos.
A pesquisa quebra o paradigma de que educação de qualidade requer altas verbas e revela a importância de executar políticas públicas continuadas com gestores qualificados. A relevância desses resultados se torna ainda mais evidente com o levantamento realizado pelo Ipec, que mostra que a maioria dos brasileiros (59%) acredita que a educação pública brasileira vai melhorar nos próximos 4 anos. Nesse contexto, os dados apresentados na dissertação podem servir de guia para implementação de ação.
Pesquisa
Os 5.570 municípios do Brasil foram objeto de estudo do pesquisador Vinícius Moraes, mestre em Gestão de Políticas Públicas pela EACH/USP, que os separou em grupos e observou as formas de capacitação, como remuneração docente e gasto médio por aluno, e resultados educacionais, como pontuação no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e índices de permanência escolar. Ele também analisou as condições socioeconômicas dos perfis que apresentam as melhores colocações, e a apuração foi surpreendente: não necessariamente os municípios que despendem mais recursos humanos e financeiros têm os melhores resultados.
“A concentração é aqui no Ceará onde existem estudantes com perfil de vulnerabilidade social, mas a diferença são os gestores, que sabem investir em educação, com uma boa gestão da política educacional”, explica Moraes. “Visitei escolas em Sobral, município do Ceará, e não há nada de excepcional; os estudantes não utilizam celular ou lousa digital. É livro, giz e quadro”.
Esse dado confronta a opinião comum de que educação de qualidade depende do uso de tecnologias avançadas. É importante salientar que isso não tem relação com as buscas de redução de verbas destinadas à Educação, mas de observar como esses recursos podem ser utilizados de forma mais eficiente, mirando os municípios que apresentaram avanços.
E esses resultados estão diretamente relacionados com os gestores educacionais, que orientam como investir de melhor forma os recursos públicos. Segundo Moraes, é importante que gestores de fato entendam sobre a área de educação. Alguns exemplos de políticas aplicadas nessas escolas referenciadas são: projetos de formação continuados e em serviço, com acompanhamentos e monitorias frequentes, inclusão de material pedagógico adequado, avaliações crítico-construtivas e currículos adequados.
O pesquisador também analisa a trajetória de políticas públicas no país. “O federalismo contribui para a redução das desigualdades, mas ao mesmo tempo é míope quando trata os 5.570 municípios da mesma forma”. Nessa lógica, as políticas públicas federais de Educação geralmente são apresentadas com formato único e que não considera efetivamente a heterogeneidade da municipalidade, como o tamanho da escola, se é urbana ou rural e seu período de funcionamento. “Já observamos que há diferentes comportamentos mediante diferentes fatores, e a partir disso pode-se pensar em soluções diferentes para que o governo apoie as escolas de acordo com as suas necessidades”, conclui.
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