Seja um ataque a replicação do vírus no organismo, com profilaxia pré-exposição (PrEP) ou uma vacina eficaz, pesquisadores do mundo todo buscam uma cura definitiva para a aids. No ICB, os esforços mais significativos estão no Laboratório de Biologia Celular do Sistema Imune.
“Temos que tomar cuidado, porque a gente fala uma coisa e os jornalistas já querem escrever outra”, destaca a professora Bruna Cunha de Alencar Bargieri, que coordena a equipe de pesquisa do Laboratório. Ela leva o assunto com extrema cautela, já que tem consciência do tamanho do desafio.
Ainda que exista tratamento eficaz do HIV e ferramentas para prevenir, detectar e tratar infecções oportunistas, que se aproveitam da fraqueza do sistema imune, no ano passado a aids matou cerca de 650 mil pessoas, segundo o relatório Em Perigo, lançado pela Unaids, órgão da ONU para o tema.
Os pesquisadores do ICB estudam de perto as células do sistema imunológico, macrófagos, as células dendríticas e os linfócitos T, tanto em condições normais, como em resposta a infecções, que é o caso da aids, causada pelo HIV.
“Estudamos as miosinas, que são proteínas motoras”, explica Bruna Cunha de Alencar Bargieri, coordenadora do Laboratório. As proteínas motoras não tem esse nome à toa. Elas são consideradas enzimas mecanoquímicas, ou seja, transformam energia química em energia mecânica, como um motor de carro. Sua “estrada”, então, seria outra proteína, que compõe o “esqueleto” das células, chamada actina.
“Diversas evidências apontam que o HIV-1 [tipo 1] se utiliza da rede de actina em várias etapas do seu ciclo”, lê-se na descrição da pesquisa do grupo. Logo, partem para descobrir como ocorre a interação das miosinas, que percorrem essa rede de actina, com o vírus do HIV-1, através do seguinte método: silenciamento genético.
Os pesquisadores inibem (silenciam) um conjunto de genes que expressa um tipo específico de miosina e depois estudam a interação dessa célula manipulada com diferentes etapas do ciclo de infecção pelo vírus. As principais células usadas nos testes são os macrófagos.
“É cedo para comemorar, mas pode ser o começo de um novo tratamento”, afirma Bargieri. Ainda sem publicar os resultados, ela adiantou que existe, sim, uma relação entre as miosinas e o sucesso da replicação do vírus. A pesquisa tem grandes méritos por levantar a hipótese, que se confirmada, pode trazer as bases para um novo tipo de tratamento, diferente, em princípio, de todos que existem hoje.
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