Fechado desde 2013 para reformas, o Museu Paulista da Universidade de São Paulo – popularmente conhecido como Museu do Ipiranga – foi reaberto em 2022 em comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil. Além da expansão de anexos da estrutura interna da construção, o acervo sofreu um minucioso trabalho de restauração, com a participação de pesquisadores e docentes da área acadêmica.
Isabela Sodré, 33 anos, doutora pelo Instituto de Química da USP (IQ), realizou, a partir de 2019, um projeto de pesquisa, focado na restauração de obras e bens de valor. Intitulado “Investigação espectroquímica de Bens Culturais: desafios químicos, forenses e museológicos de abordagens não destrutivas”, a pesquisadora recebeu a orientação da docente Dalva Lúcia Araújo de Faria, também do IQ-USP.
Por conta da condução de suas pesquisas, Isabela obteve a oportunidade de participar, ainda em 2019, dos trabalhos no Museu, com suporte às intervenções de restauro que integraram as preparações para sua reabertura. Ainda que não tenha realizado o processo manual de restauração, a pesquisadora utilizou métodos da química neste trabalho.
À Agência Universitária de Notícias (AUN), Isabela conta que, desde que defendeu seu doutorado em 2018, a respeito dos aspectos estruturais e sinérgicos na investigação de bens culturais, já sabia-se que o Museu precisaria de uma equipe multidisciplinar para o trabalho de restauração. “Após a defesa da minha tese, recebi o convite para conduzir estudos junto ao Museu, que se preparava para a reabertura.”
Junto com a doutora Yara Petrella, especialista em conservação e restauro, Isabela visitou o Museu para realizar análises do estado de conservação das obras. “O principal era entender quais eram as necessidades da pintura, olhar de perto para perceber detalhes e pontos de alteração, que poderiam ser um sinal de degradação”, conta a pesquisadora.
“Conversando com a Yara, ela me contou alguns pontos das pinturas que mereciam atenção especial, qual o verniz utilizado. A partir deste ponto, com as imagens, passamos a trabalhar no laboratório, para guiar os restauradores.” As análises de Isabela se centraram, em especial, no quadro “Independência ou Morte”, do pintor Pedro Américo. Ele retrata uma visão positivista e idealizada do que teria sido a proclamação da Independência do Brasil por Dom Pedro I, em 7 de setembro de 1822.
Essas análises das imagens, feitas com recurso ultravioleta, foram realizadas no laboratório do IQ-USP. “Esse processo se baseou, a partir da química, em identificar as substâncias e materiais que foram utilizados na obra.” Como exemplo, Isabela cita que, a partir das análises, ficou comprovado a utilização de uma camada de ouro puro em sua composição. Na moldura, há indícios do uso de argila mineral.
Isabela conta que se emocionou ao ver o resultado de seus estudos na prática. “Ao entrar novamente no Museu, me lembrei de quando vi os quadros pela primeira vez, em um estado ruim. Agora consigo entender o papel social do meu trabalho e o porquê de eu ter escolhido essa área de conservação de patrimônio.”
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