O CARies DEtection in Children – Cardec (detecção de cáries em crianças, em tradução livre), iniciativa da Faculdade de Odontologia da USP (FO) para a realização de estudos de diagnóstico de cárie em dentes de leite, aliou-se ao Instituto de Psicologia (IP-USP) para criar a pesquisa Cardec Twins (Cardec gêmeos), voltada para o estudo da relação entre a gemelaridade, qualidade de vida, e saúde bucal.
A pesquisa é relativamente recente, tendo sido iniciada há menos de um ano, e portanto seus resultados ainda não foram consolidados para aplicação clínica. Porém, algumas apurações já se mostraram possíveis teses, como a indicação de que gêmeos idênticos aparentam desenvolver mais cáries que os não-idênticos. “Nossos dados são bem recentes para aplicar na prática clínica. A gente já tem algumas ideias do que a gente tem coletado, só que ainda não não há umas análises certas, concretas para falar”, adverte, porém, a pesquisadora e doutoranda em odontopediatria na FO, Júlia Freitas.
Dificuldades e alívios na pesquisa
A coleta da amostragem tornou-se um impasse para o andamento da pesquisa, segundo Freitas. “É o maior desafio, sem dúvida, porque estamos buscando pessoas que nasceram aqui no Hospital das Clínicas, mas há cinco, dez anos atrás. Então tem muitos que mudaram de endereço, de número de telefone. Existe o desafio de encontrar. E daí tem umas histórias inusitadas pra contar”, afirma Fausto Mendes, professor da FO e principal coordenador do grupo Cardec. Existem diversos relatos de famílias encontradas por meio de cartas e casos excepcionais como o descobrimento de gêmeos em conversas com seguranças da faculdade ou em viagens de Uber. “É um critério que acaba sendo um gargalo, porque precisa ter nascido no Hospital da Clínicas. Mas acho que quando a gente conta, vai que acha né? Está vendo? A gente achou dois pares só por perguntar”, segundo Freitas.
Por outro lado, um fator que poderia dificultar o progresso da pesquisa mas revelou-se justamente o contrário é a participação dos pais dos gêmeos: “Eles são bem tranquilos e bem receptivos. Acho que é uma das características fortes do nosso grupo, pensando em outras pesquisas do Cardec: de manter os pais”, afirma Freitas. De fato, as taxas de desistência ou ausência nos retornos são baixíssimas no grupo Cardec, e os pais geralmente são muito prestativos quando possível. “Eles vêm e já falam ‘Esse aqui escovou, esse aqui já é mais preguiçoso isso aqui não escova nunca’. E em outras orientações também. Acho que os pais são bem colaboradores. Principalmente porque eles vêm dispostos, quando algum questionário ou algum trâmite com a equipe da psicologia atrasa eles são bem compreensivos”, segundo a pesquisadora.
O surgimento do CARDEC Twins
A colaboração entre a Faculdades de Odontologia e o Instituto de Psicologia veio da convivência do professor Fausto Mendes com a professora Emma Otta, pró-reitora adjunta de pesquisa da USP de 2018 a 2019; os dois dividiam uma sala. “Eu disse, brincando, ‘professora, eu também tenho trabalho com gêmeos’, já que eu fiz uma pesquisa junto com uma professora lá da UFPI (Universidade Federal do Piauí). Ela ficou muito animada, e sugeriu fazer uma parceria”, relembra Mendes. “Começou meio pequeno, meio despretensioso, daí surgiu em 2020 um edital da Pró-Reitoria de Pesquisa que tinha que ter o envolvimento de duas unidades pelo menos da USP, então ele casava bem. Nós fomos contemplados e daí já ganhou um vulto um pouco maior, porque já veio um investimento relativamente grande”.
O grupo Cardec tem um site que disponibiliza contato (https://sites.usp.br/cardec/contato/), e encoraja que pais de gêmeos nascidos no Hospital das Clínicas (ou aqueles que os conheçam) entrem em contato para andamento da pesquisa.
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