Unidade odontológica móvel une pesquisa e atendimento a crianças

Foto: Mariana Minatel

A instalação de uma unidade odontológica móvel em uma escola do município de Barueri foi um método de sucesso, feito pela Faculdade de Odontologia da USP. Mariana Minatel, uma das professoras que realiza pesquisas na unidade, diz que o projeto teve início em 2012, quando foi solicitada uma verba para a Fapesp para instalá-lo em algum lugar, com o objetivo de recrutar mais pacientes fora da faculdade. O trailer foi comprado e instalado no Complexo Osmarinho em 2014 e 650 crianças são atendidas no local hoje.

A ideia inicial do projeto era exclusivamente a de pesquisa. Para Mariana, “No nosso caso, virou assistencial por uma questão de consequência mesmo. Hoje temos um importante papel dentro do município”. Para ser atendida, a criança não precisa ser da escola onde a unidade se encontra, por isso, o trailer tornou-se importante para toda a região, inclusive nas áreas que os postos de saúde não cobrem. “Para bebês, por exemplo, somos uma referência, porque os postos geralmente só fazem trabalhos nas escolas com maiores de quatro anos e aí os bebês têm, às vezes, necessidade [de atendimento] e no trailer nós temos algumas pesquisas”, relata a pesquisadora.

Ensino, pesquisa e extensão

A aquisição do trailer aconteceu, principalmente, para que as pesquisas da faculdade acontecessem de forma mais rápida. O problema, explica Mariana, seria o fato de que, na universidade, alguns pacientes não podiam participar de duas pesquisas simultaneamente, diminuindo a velocidade dos processos. Com a unidade móvel instalada numa escola, além de conseguir os 650 pacientes para as diversas pesquisas, há também uma proximidade em relação às crianças, permitindo trabalhar com elas, também, a parte educativa da saúde bucal.

Mariana não conhece outro projeto parecido em São Paulo: um trailer com verba para pesquisa instalado para atender pessoas de algum local ainda é raro, apesar de existirem iniciativas de algumas associações que não têm a característica de ficarem sediadas em um ponto. Ela conta que uma universidade teve interesse em replicar o projeto, até porque ele consegue inserir alunos da graduação que vão fazer estágio, completando a tríade ensino, pesquisa e extensão que a faculdade tanto prega.

Outro ponto é o fato de que algumas crianças já recebem tratamento dental necessário antes de iniciarem nas pesquisas. “Nas pesquisas que testam diferentes abordagens de diagnóstico e tratamento a criança entra e a gente faz, de acordo com a pesquisa, um plano de tratamento, então ela recebe todo esse tratamento”, afirma Mariana. Há outros casos que são diferentes: ao testar a comparação entre duas técnicas, a criança não precisa de outro tratamento, mas ele seria necessário, por ela estar dentro da pesquisa. Assim, a unidade acaba fazendo o resto dele. A professora adiciona que, dessa forma, é possível juntar duas pesquisas para otimizar todo o processo.

Os impactos da unidade móvel

Como a ideia inicial nunca foi a de atendimento, não houve uma pesquisa para medir populacionalmente o impacto que a instalação do trailer teve nas comunidades próximas. No entanto, Mariana pensa que a população ao redor do trailer recebe informações necessárias, já que o projeto possui um grupo no Facebook que, além de dar recados oficiais, oferecem informações adicionais a respeito da saúde bucal. Muitas pessoas também vão até o trailer: “as professoras que, às vezes, têm dúvida acabam disseminando a informação pros alunos”. Além do Facebook, a professora disponibiliza seu Whatsapp e afirma que sempre recebe mensagens de mães com algumas dúvidas e pedindo conselhos.

A vantagem de um projeto como esse seria o fato de que, muitas vezes, são abrangidas populações que não têm acesso a ele. Além disso, há o componente da educação: “mesmo que a gente não atenda toda a população ali no meio, o fato da gente estar ali acaba disseminando informação”. Mariana, entretanto, pensa que há outras formas de alcançar uma população que demandam menos dinheiro. Há programas que podem levar educação de forma a incentivar a prevenção antes de tratamentos curativos,como também a inserção do dentista dentro do programa de saúde da família, que já acontece em poucos lugares do Brasil.

O projeto da FO ainda prevê um novo “boom” de pesquisas ao incluir em torno de 300 crianças nos novos estudos. Mariana, assim, finaliza ao ressaltar a importância de um projeto desses tanto para a área acadêmica quanto para a social, afinal de contas, as agências de fomento à pesquisa têm, cada vez mais, exigido uma contrapartida que beneficie a população. A unidade odontológica móvel, dessa forma, consegue unir essas duas vertentes de modo a beneficiá-las e servir de exemplo para vários outros centros de ensino. 

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