Atletas de alto rendimento invariavelmente convivem com lesões que os impedem de exercer seu trabalho com excelência. Proporcionar um tratamento menos agressivo e, ao mesmo tempo, mais eficiente para a recuperação desses problemas é sempre a meta dos departamentos médicos dos clubes esportivos. Entretanto, para lesões no joelho, tão comuns nesse ambiente, as alternativas de hoje ainda podem deixar a desejar.
Foi pensando nisso, entregar aos atletas um tratamento menos invasivo, que Tiago Lazzaretti Fernandes, ortopedista especialista em cirurgia do joelho e médico do esporte do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP), iniciou em 2015, com apoio do Hospital Sírio-Libanês e da Universidade de Osaka, do Japão, um projeto de engenharia tecidual aplicada à recuperação de lesões na cartilagem do joelho, com uso de células-tronco para a produção de membranas a serem implantadas na articulação.
“A gente fez um estudo experimental em grandes animais, com avaliação histológica (explicar), mecânica (explicar) e por ressonância magnética”, conta Fernandes. “Obtivemos melhores resultados no recobrimento do ‘defeito’ da lesão da cartilagem no grupo tratado com composto de engenharia tecidual (CET, explicar o que é isso).” O próximo passo é, segundo ele, continuar a pesquisa em humanos, testando sua eficácia e sua segurança.
O projeto faz parte de uma pesquisa translacional, isto é, um estudo científico com objetivo de diminuir a distância entre a produção de conhecimento em laboratórios e a aplicação prática na
medicina, por meio de intervenções inovadoras para a população. As células-tronco, responsáveis pelo nosso desenvolvimento nos primeiros anos de vida e pela renovação tecidual dos nossos órgãos, vêm sendo cada vez mais utilizadas na medicina para combater doenças como câncer, mal de Parkinson e de Alzheimer.
No caso específico do tratamento do joelho, Fernandes explica como as células são extraídas e aproveitadas: “Uma nova possibilidade de tratamento é coletar as células do palato [céu da boca]. Isso é um procedimento que não precisa dar ponto, é só uma trefina [instrumento cirúrgico comum para dentistas] e você comprime com uma gaze. É um procedimento pouco invasivo realizado ambulatorialmente”, afirma. “A gente realiza um isolamento e um crescimento dessas células em laboratório para o médico poder infiltrar.”
O fato de o tratamento poder ser realizado em um hospital convencional é, segundo o doutor, a chave da pesquisa. “Para implementar uma nova tecnologia, ela tem que ser simples, senão aumentam os custos e você não consegue chegar na prática clínica.” Clubes nacionais de futebol já demonstraram interesse em realizar essa terapia celular, mas, no Brasil, ela só pode ser realizada experimentalmente em ambientes acadêmicos até os estudos serem concluídos, aprovados e regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O tratamento com o CET vem para preencher uma lacuna que hoje carece de opções. O ortopedista cita que todo tratamento tem como meta principal diminuir a dor e melhorar a função do joelho, mas que existe um hiato quando tratamentos conservadores, como a fisioterapia, não são suficientes. O estágio seguinte, a intervenção cirúrgica, aparece como uma opção bem mais agressiva, e o projeto inovador coloca a injeção de células-tronco como uma ótima alternativa entre as atuais opções, com melhor eficiência frente aos tratamentos convencionais.
Faça um comentário