Crianças sem sono de qualidade e obesas são 17% mais propensas a inflamações

Pesquisa associa a qualidade de sono e a obesidade com o perfil inflamatório de crianças brasileiras

[Imagem: Tempo de sono altera perfil inflamatório de crianças brasileiras / Fonte: Pixabay]

Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Saúde Pública da USP revela que sono de má qualidade e sobrepeso afetam negativamente o perfil inflamatório das crianças brasileiras de 5 a 7 anos. O estudo realizado pela nutricionista e mestre em ciências Vanessa Oliveira faz parte do SAYCARE Cohort Study (South American Youth/Child Cardiovascular and Environmental study), que avalia a saúde cardiovascular de crianças latino-americanas. 

Os dados para a pesquisa foram coletados em escolas públicas e privadas predominantemente de São Paulo, além de algumas instituições de Fortaleza. A amostra foi coletada através da resposta de questionários, da antropometria (medição das dimensões físicas) e da utilização de acelerômetros, que medem repouso e movimento. Esses equipamentos ficaram na cintura das crianças durante 7 dias e eram responsáveis por medir o tempo de sono. 

Para comparar os resultados, foram utilizados os parâmetros de tempo de sono estabelecidos pela National Sleep Foundation. De acordo com o órgão, a carga horária de sono recomendada para o público com o qual a pesquisa foi realizada é de 10 a 13 horas. No entanto, os resultados obtidos mostraram que muitas dessas crianças dormiam apenas 6 horas à noite, aproximadamente. Outras dormiam por um período muito estendido à tarde, cerca de 5 horas, fator que desregula a rotina de sono.

No entanto, o estágio do sono caracterizado pela vigília é responsável por regular a ativação e a produção das células responsáveis pela manutenção do sistema imune. Sendo assim, um período inadequado de sono eleva os biomarcadores inflamatórios das crianças. Para privar essa constatação, a proteína c-reativa adquirida através de exames de sangue feitos nas crianças foi analisada. 

“Essa baixa quantidade de horas dormidas dessas crianças estava influenciando no aumento da proteína c-reativa (PCR), que é uma proteína sintetizada no fígado que, quando está acima de 1, ela já indica um processo inflamatório existente”, explica a pesquisadora.

No entanto, outro fator também foi associado como mediador nessa pesquisa: o sobrepeso e a obesidade. De acordo com a nutricionista, a obesidade também é um fator que pode influenciar no perfil inflamatório. Sendo assim, a análise mediada provou que a obesidade impacta fortemente nos resultados dos exames das crianças.

“Fazendo a análise estatística, a circunferência de cintura aumentada, que usei para classificar a obesidade nessas crianças, aumentou 17% os níveis de PCR dessa criança.”, conta a nutricionista. Sendo assim, a criança que tem o sono desregulado e está obesa, tem uma propensão inflamatória 17%  maior.

A pesquisadora também ressalta que, de acordo com os dados adquiridos, a diferença nos resultados das crianças de escolas públicas e particulares foi insignificante. Para Vanessa, isso mostra que, ainda que as mães de crianças com maior poder aquisitivo apresentassem nível de escolaridade superior aos das mães de crianças de escolas públicas, o conhecimento mais abrangente sobre saúde não era utilizado em prol dos filhos.

Portanto, um caminho para mudar tal cenário seria a criação de uma rotina para a criança, já que a falta de regras mais rígidas quanto a alimentação saudável, prática de exercícios físicos e hora de dormir não são colocadas em prática. Além disso, Oliveira destaca a importância de políticas públicas que levem ao conhecimento de famílias de baixa renda a importância do sono e da alimentação regrada.

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