Pesquisa aponta redução de macroalgas e aparecimento de uma nova espécie de grama marinha no litoral paulista

De grande importância econômica e ambiental, esses organismos são essenciais para a manutenção de um ecossistema equilibrado

Tartaruga se alimentando de grama marinha [P. Lindgren / Wikimedia Commons]

A partir de uma pesquisa realizada no Centro de Biologia Marinha da USP (Cebimar), foi observada no Canal de São Sebastião, litoral norte do estado de São Paulo, uma diminuição na quantidade de macroalgas formadoras de dosséis (cobertura semelhante a que as copas das árvores formam em uma floresta) e também a presença de uma nova espécie de grama marinha, com potencial de afetar comunidades nativas. 

As macroalgas (algas visíveis a olho nu) podem viver completamente submersas ou expostas em períodos de maré baixa, sendo classificadas em três diferentes grupos: algas verdes, vermelhas e pardas. Todas as macroalgas são  autótrofas e fotossintetizantes, ou seja, produzem seu próprio alimento a partir da fotossíntese.  Geralmente, elas crescem fixas sobre um substrato (base) e servem de abrigo para outros organismos. 

Alga parda. [Álvaro E. Migotto / Banco de imagens Cifonauta]
De acordo com o professor Augusto Alberto Valero Flores, principal autor da pesquisa, “Assim como nos ambientes terrestres você tem as árvores, que formam dossel, debaixo d’água existem macroalgas que também constituem dossel”, por exemplo a espécie Sargasso ssp, analisada no estudo.

Com os resultados obtidos foi possível verificar que a redução na cobertura dos dosséis está relacionada ao aquecimento das águas, ao crescimento populacional e à localização, visto que as zonas costeiras apresentaram menores perdas do que determinados tipos de baía, que estão menos expostas ao mar.  Ainda de acordo com os dados coletados, as coberturas de sargaço no Brasil diminuíram 52% desde a década de 1980.

Gramas marinhas

As gramas marinhas estão presentes em todos os continentes, exceto a Antártida, e assim como as macroalgas são habitats para diversos outros organismos, desde pequenos crustáceos até peixes e servem de alimento principalmente para tartarugas e peixes-boi. Segundo o professor, quando se compara um ambiente onde há grama marinha com um outro local que não a possui, observa-se um aumento de biomassa e abundância. 

No Brasil, existem três gêneros de grama marinha: Halodule, Halophila e Ruppia. Entretanto, foram encontradas espécies do gênero Halophila nas águas rasas de São Sebastião, onde anteriormente verificava-se apenas a presença da Halodule emarginata. 

O avistamento de uma nova espécie do gênero Halophila pode representar um risco ao ecossistema, por exemplo, ao competir com as gramas nativas. “Tudo indica que devido ao aquecimento das águas rasas ao longo das décadas, essa espécie [Halophila], está conseguindo colonizar latitudes mais distantes do Equador e migrando para zonas mais subtropicais”. Além disso, “sabemos que essa espécie que está vindo do Norte tem potencial de espécie invasora e que eventualmente ela pode prejudicar outras espécies”, afirma o professor.

Grama marinha do gênero Halophila. [National Ocean Service / Wikimedia Commons]

Importância econômica e ambiental 

Além de se configurarem como habitats para outros organismos, as macroalgas também são empregadas na fabricação de produtos de higiene e na culinária oriental. Já as gramas marinhas desempenham uma função relevante na retirada de carbono da atmosfera, sendo consideradas ótimas indicadoras de qualidade ambiental, devido sua sensibilidade a variações de luminosidade e disponibilidade de nutrientes.

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