No dia 18 de maio, foi lançado o Biota Síntese – Núcleo de Análise e Síntese de Soluções Baseadas na Natureza. O projeto é integrante dos Centros de Ciência Para o Desenvolvimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e está sediado no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Seu objetivo é solucionar problemas socioambientais do estado de São Paulo.
Para seu idealizador e diretor, Jean Paul Metzger, docente do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências (IB) da USP e pesquisador do IEA, o diferencial do projeto é que ele busca incidir diretamente em políticas públicas, através do aperfeiçoamento de políticas existentes e da proposição de novas:
“A gente não quer só fazer pesquisa de boa qualidade, que sustente políticas públicas, mas já chegar na política pública e ver, usando os instrumentos de governança que existem ou criando novos instrumentos, como que conseguimos agir para promover um melhor estar da população, para resolver um problema socioambiental.”
Síntese científica
O Biota Síntese é inspirado na dinâmica de centros de síntese. Esses espaços, que existem em países da Europa e da América do Norte, funcionam por meio do encontro de grupos heterogêneos e multidisciplinares, unindo pessoas de várias áreas, por vezes de dentro e fora da academia, para pensar um mesmo problema. “Basicamente o que os centros de síntese fazem é criar esse espaço adequado para o diálogo de pessoas com diferentes formações, diferentes experiências, diferentes ideias”, explica Metzger.
Nesses grupos, essas pessoas de diferentes áreas se reúnem em “mergulhos”, quando passam alguns dias juntas em um ambiente, normalmente fora de seus espaços tradicionais de trabalho. Nesse local existem momentos de interação formal e informal, como coffee breaks, atividades culturais ou excursões. O pesquisador, que já participou de dinâmicas dessa natureza, destaca a importância das interações informais, que servem para criar relações de vínculo e confiança entre os participantes.
O Biota Síntese
O projeto é coordenado pela USP e pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sima-SP) e busca atender a demandas dessa e de mais duas secretarias, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Ao todo, 27 instituições participam do programa, incluindo universidades, ONGs, fundações, secretarias do estado e a Prefeitura de São Paulo.
“São Paulo é um estado muito privilegiado. Primeiro porque tem a Fapesp, que é uma instituição fabulosa com muito dinheiro e que sabe empregar bem esse dinheiro em termos de pesquisa. E São Paulo é muito particular também porque o pessoal técnico do governo é muito bom, na área ambiental e na saúde”, conta Metzger.
O Biota Síntese busca agir a partir de soluções baseadas em natureza para resolver os problemas postos pelo governo de São Paulo. Esse método busca utilizar os próprios processos naturais para a resolução de questões socioambientais, como ilustra Metzger:
“Na agricultura você pode ter um processo mais eficiente e mais efetivo se você tem polinização. Em cidades, elas podem ser melhor adaptadas às mudanças climáticas se você tiver uma boa distribuição da vegetação, que reduz riscos de inundação ou de deslizamento”.
As áreas de atuação
O projeto é dividido em quatro grandes temas: agricultura sustentável, restauração e economia de base florestal, controle de zoonoses e prevenção de doenças em cidades. Cada um desses temas funcionará como um grupo independente, com seus encontros para síntese separados, reunindo pessoas de áreas como saúde, urbanismo, clima e ecologia. Além dos quatro grupos temáticos, um quinto grupo será dedicado à coprodução de políticas públicas e vai dar suporte aos outros.
O grupo de agricultura sustentável se dedicará principalmente a questões relacionadas à polinização. O grupo de restauração e economia de base florestal busca ajudar nas metas do programa Refloresta SP, anunciado pelo governador João Doria em setembro do ano passado. O programa procura recuperar 1,5 milhão de hectares de vegetação nativa do estado de São Paulo até 2050. A ideia do grupo é promover o reflorestamento de uma forma que beneficie a biodiversidade e, ao mesmo tempo, gere renda para os proprietários das terras.
O Biota Síntese ainda procurará tornar o estado carbono neutro — isto é, diminuir as emissões de carbono e aumentar o sumidouro (a retirada de gás da atmosfera), fazendo com que toda emissão de carbono seja compensada. A demanda foi colocada por Eduardo Trani, subsecretário do Meio Ambiente, e atende ao Plano de Ação Climática do Estado de São Paulo (PlanClimaSP).
O grupo de zoonoses buscará entender como o planejamento do desenho espacial de áreas habitadas e florestadas pode ajudar a conter o avanço de vetores de doenças que passam dos animais para os homens.
A equipe dedicada à prevenção de doenças em cidades procurará reduzir as incidências de doenças cardiovasculares, respiratórias e de casos mais leves de distúrbios mentais como ansiedade e depressão. O objetivo é entender como a infraestrutura verde dentro da cidade pode ser utilizada para fornecer serviços de recreação e promover a beleza cênica, para gerar bem-estar psicológico e estimular a prática de atividades físicas.
Retorno imediato
Jean Paul Metzger diz que o projeto está se adequando ao tempo político. Os grupos têm acelerado seus processos de reunião e elaboração para entregar um primeiro produto para o governo no final de junho. O financiamento do projeto pela Fapesp se estenderá por cinco anos e os integrantes querem trabalhar com os governos que estiverem à frente do Estado nesse período, independente de quem seja eleito.
Outra vontade compartilhada por Metzger é de que o projeto venha, no futuro, a receber financiamento de instituições privadas ou do próprio governo, de forma a não depender mais só da Fapesp e poder se tornar um verdadeiro centro de síntese, com um espaço físico dedicado.
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