Pesquisadores da USP estudam medidas para adaptar construções às mudanças climáticas

Projeto PlanClimaSP avalia melhores soluções para que a cidade de São Paulo seja mais sustentável

São Paulo: prédios e asfalto até onde a vista alcança. Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Não é de hoje que os estudiosos de diversas áreas vêm se preocupando cada vez mais com as mudanças climáticas e as consequências desastrosas que elas trarão se continuarem a avançar. À primeira vista, a arquitetura e o urbanismo são campos não muito associados aos estudos sobre esse tema. No entanto, eles são tão cruciais para a análise e a solução desse problema como a ecologia ou a meteorologia.

Nesse sentido, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU), juntamente com a Escola Politécnica (POLI – USP) e o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG – USP), está desenvolvendo o projeto PlanClimaSP 2021: estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas em edifícios e espaços livres. Ele surge conjuntamente ao projeto de mesmo nome da Prefeitura de São Paulo (PMSP), que até 2030 pretende reduzir 50% da emissão de gases do efeito estufa e “reduzir as vulnerabilidades sociais, econômicas e ambientais da população paulistana”, conforme descrito no programa do Plano de Ação Climática.

No entanto, como aponta a professora da FAU Denise Duarte, o projeto é oriundo de preocupações mais antigas. “O PlanClima [da PMSP] foi mais uma oportunidade de vinculá-lo à uma política pública recente. Mas o projeto aconteceria com ou sem ele. Era um tema no qual já vínhamos trabalhando.” As pesquisas se dão em duas frentes, contemplando a análise crítica das regulações prediais existentes e a avaliação de desempenho dos edifícios e espaços livres.

Como salienta Denise, “o código de edificações exige pouca coisa, praticamente nada. Pra ele se alinhar com o PlanClima, teríamos que ter um código muito melhor, que estabelecesse avaliações de desempenho, consumo de energia, como outros planos ao redor do mundo estão fazendo.” Apesar de muito detalhado nos seus objetivos, o planejamento da PMSP é um pouco vago em explicar como eles podem ser alcançados e é exatamente isso que o projeto da USP tenta responder.

Para tanto, o seu caráter de interdisciplinaridade é essencial. É exatamente no intercâmbio de conhecimentos de áreas distintas que surgem as ideias mais inovadoras e criativas. Sem perder a especificidade de cada ciência, o projeto as une em torno de uma meta comum. Uma região da cidade onde mudanças estão acontecendo – devido à medidas do Plano Diretor ou do Código de Edificações, por exemplo – será selecionada como área piloto para o recebimento desses estudos.

Nela, será buscada a compreensão da eficiência térmica e energética dos edifícios, a partir de simulações extremamente precisas que permitem prever condições climáticas de hora em hora em um período de décadas. A partir disso, a Arquitetura pode entender melhor o que precisa ser feito, em um processo que envolve a Engenharia e a Meteorologia.

A Prefeitura já tem promovido algumas ações nessa direção, como com a aprovação do PLANPAVEL, o Plano Municipal de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres, que está previsto no Plano Diretor e busca elaborar uma “política pública de gestão e provisão de áreas verdes, e de proteção do patrimônio ambiental.” Além disso, a proposta do governo é formar um time não apenas pertencente à Secretaria do Verde, mas que ligue todas as secretarias, promovendo uma cidade mais sustentável e saudável para seus habitantes.

Estes, aliás, são o ponto principal do PlanClima. Tudo que está sendo proposto por esse conjunto de pesquisadores é pensando na qualidade de vida da população. Por isso mesmo é que sem o apoio da sociedade, a implementação do projeto fica mais difícil, como salienta Denise: “Muita coisa acontece por organização da sociedade civil. É preciso o envolvimento da academia, do estado, das ongs e da sociedade civil organizada, que é capaz de fazer muita coisa. E são essas coisas que afetam a vida diária das pessoas.”

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