Desmatamento na Amazônia diminui a produção energética de hidrelétricas do Centro-Oeste brasileiro

Impacto ocorre devido a redução das precipitações, mostra estudo, que analisou os dados de desmatamento, chuva e vazão das usinas hidrelétricas

Imagem de um área desmatada
[Imagem: Reprodução/Pixabay]

A energia hidráulica correspondia a 65,2% da matriz elétrica brasileira em 2020, segundo dados do Balanço Energético Nacional. Porém, um estudo concluiu que o desmatamento da Amazônia — que cresceu 29% só em 2021 —, está afetando o abastecimento de água nas usinas hidrelétricas. 

O resultado faz parte da dissertação de mestrado de Fernanda Leonardis, que foi orientada por Pedro Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam) do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.

“Muito se fala sobre desmatamento. Então, a gente queria associá-lo não só às questões do clima, mas também a sua relação com a população: como a vida delas é impactada, mesmo sendo um desmatamento no Norte do Brasil”, conta Fernanda, que atualmente é doutoranda pelo Procam, sobre a motivação para a escolha de sua tese.

Foram analisadas usinas da Região Centro-Oeste do Brasil. Fernanda explica que essa escolha ocorreu, porque as precipitações do Centro-Oeste tem uma influência quase exclusiva nas precipitações do fenômeno dos rios voadores, vapor de água que vem do oceano Atlântico e segue em direção a Cordilheira dos Andes, onde é desviado para estados brasileiros, como o Mato Grosso. Diferente de outras regiões do Brasil, que também recebem os rios voadores, mas são influenciadas por outras massas de ar, como é o caso da Região Sudeste.  

Além disso, dentre essas usinas, foram analisadas as que ficam no alto dos rios. “Aquelas que ficam mais abaixo no rio tem a sua vazão influenciada por uma usina que está na cabeceira [do rio], o que vai interferir na vazão. Então levamos em conta as usinas que tinham o que chamamos de vazão afluente natural”, explica.

Imagem de uma usina
As usinas hidrelétricas são construídas próximas à quedas d’água e podem estar localizadas na cabeceira do rio, primeiro trecho da nascente de um curso de água ou depois desse ponto. [Imagens: Cleverton Ribeiro/Flickr]
Para investigar se o desmatamento afeta a geração de energia foram utilizados dados do Operador Nacional de Sistemas (ONS), que apresenta a série histórica da vazão dessas usinas; do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que apresenta dados do desmatamento da Amazônia Legal e do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), que apresenta informações sobre as precipitações nas regiões analisadas.

Ao relacionar esses dados, foi possível ver que, ao mesmo tempo em que o desmatamento aumentava, a vazão média das hidrelétricas diminuía. Isso porque, com o corte da vegetação amazônica, há o impacto no fenômeno dos rios voadores, visto que ao chegarem na Floresta Amazônica, a água é reciclada pelas árvores da região. 

“A água vem do oceano, chega na Amazônia e chove. Então essa água entra no solo e as raízes profundas das árvores a absorvem e transpiram. E é essa a água que os rios voadores carregam até o Centro-Oeste”, afirma Fernanda.

Ela acrescenta, ainda, que, por mais que o desmatamento tenha ocorrido para a agricultura, as culturas que comumente são plantadas no Norte do Brasil não possuem raízes profundas. Então, a água fica retida no subsolo. 

Com isso há o impacto na produção energética brasileira, o que aumenta os valores pagos pela população nas contas de luz e também favorece o uso das termelétricas. “O Brasil, que tem a maior parte da energia vinda de fontes renováveis por causa da disponibilidade hídrica das usinas, começa a carbonizar a matriz energética”, aponta a doutoranda. 

Tentando encontrar soluções para esse problema, em seu doutorado, Fernanda está estudando possíveis caminhos para resolver a questão. “A ideia é, sabendo que a disponibilidade hídrica está cada vez menor e, que, embora exista um movimento de políticas climáticas para reverter o aquecimento global, a tendência é que ele piore, buscar soluções a partir do diagnóstico já encontrado”. 

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