Campus da Esalq é um dos parques mais importantes de Piracicaba

Universidade abriga uma área pública para prática de esportes e lazer dos moradores da cidade; pesquisador destaca relevância social e impacto direto para a comunidade

Prédio Central (ESALQ) Créditos: Adrielly Marcelino

Nem todos que frequentam as ruas do campus da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) fazem parte da comunidade acadêmica. A paisagem do campus, sua importância histórica e arquitetônica, além de extensa área verde, são listados como atrativos para moradores e visitantes da cidade de Piracicaba, localizada no interior paulista.

Inspirado no estilo dos parques ingleses, o Parque do Campus da USP “Luiz de Queiroz”, foi inaugurado em 1907. Com área de aproximadamente 15 hectares, o que corresponde a 150.000 metros quadrados, o local é predominantemente gramado, com lagos, espelhos d’água e uma grande biodiversidade de plantas ornamentais. Em 2006, a Esalq foi tombada como Patrimônio Público Estadual pelo Governo de São Paulo.

O parque foi projetado pelo paisagista belga Arsênio Puttemans, que na época era docente da então Escola Prática de Agricultura “Luiz de Queiroz” (nome da instituição antes de ser parte da Universidade de São Paulo). “ O Parque do Campus “Luiz de Queiroz possui grande relevância histórica e científica, abrigando hoje uma enorme coleção de plantas da flora brasileira e exótica, incluindo diversas árvores centenárias”, destaca Angelo Trevisoli, Paisagista graduado em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP.

“Desde o início da minha vida acadêmica o Parque Luiz de Queiroz me impactou positivamente. A partir da minha vivência neste espaço e da minha pesquisa sobre a relevância desse parque, eu escolhi a minha profissão: hoje sou paisagista e uso os conhecimentos técnicos e teóricos adquiridos no curso de Agronomia da Esalq como a minha principal ferramenta de trabalho” afirma Angelo Trevisoli.

Em seu trabalho de conclusão de curso em Engenharia Agronômica, intitulado Percepção ambiental acerca do Parque do Campus USP “Luiz de Queiroz”, Angelo Trevisoli defende que além de toda sua relevância para a educação e ciência, a área verde do campus exerce um impacto direto na qualidade de vida da comunidade acadêmica e também da população local.

“É importante entender como o meio ambiente afeta a vida das pessoas. Existem poucos trabalhos sobre percepção ambiental nas ciências agrárias. As publicações são majoritariamente sobre a produtividade das culturas, sistemas agrícolas, mas na área de meio ambiente, que integra também as agrárias, há pouca coisa sobre a importância das áreas verdes e das plantas para proporcionar benefícios diários aos cidadãos” ressalta Trevisoli.

Lago dos patos no Campus Luiz de Queiroz
Créditos: Adrielly Marcelino

O pesquisador entrevistou 480 pessoas que frequentavam o Parque “Luiz de Queiroz” para descobrir de onde eram, o que praticavam no local, o que mais os atrai ali e qual o impacto da região na vida dos participantes da pesquisa. “As áreas verdes urbanas promovem melhorias na saúde mental e física da população”, conclui o pesquisador. 

Angelo Trevisoli escolheu a sua metodologia de pesquisa com o objetivo de realizar um trabalho prático respeitando os protocolos de segurança da pandemia da COVID-19. “Devido às condições sanitárias, observei que a maior parte dos meus colegas estavam fazendo algo voltado para revisão bibliográfica, sem algo mais prático, mais palpável. Então eu realizei uma pesquisa de opinião sobre a relevância e impacto deste espaço (Parque Luiz de Queiroz)  dentro da minha casa, respeitando o distanciamento social”.

De acordo com Trevisoli, a carência de área verde para uso público impacta negativamente a saúde mental e física da comunidade: “em 2010, um estudo indicou que pessoas que moram longe de espaços verdes possuem saúde mais debilitada, menor qualidade de vida e maior nível de estresse do que as pessoas que vivem próximas a eles”, reforça.

Segundo o pesquisador, há carência de trabalhos científicos no Brasil sobre o impacto das áreas verdes para a qualidade de vida da população: “é preciso entender como o meio ambiente afeta a vida das pessoas. Há poucos trabalhos sobre percepção ambiental nas ciências agrárias, as publicações são majoritariamente sobre a produtividade das culturas agrícolas”.

De acordo com Trevisoli, o campus da Esalq corresponde à principal área verde do município de Piracicaba. Além da comunidade que vive nos bairros ao redor, foi constatado que visitantes e moradores de outros bairros piracicabanos valorizam e buscam usufruir do parque.

Lago – ESALQ
Créditos: Adrielly Marcelino

Entre as atrações do Parque do Campus USP “Luiz de Queiroz”, os maiores atrativos apontados pelos entrevistados foram a “Paisagem”, indicada por 89,5% dos frequentadores, seguida por “Apreciar plantas ornamentais” (61,3%) e “Áreas gramadas” (58,8%).

Prédio com traços de arquitetura colonial – Departamento de Zootecnia da Esalq Créditos: Adrielly Marcelino

As árvores centenárias do campus da Esalq são responsáveis por abrigar uma parte diversa e considerável da fauna de Piracicaba. Ao andar ao redor do campus, é possível encontrar uma enorme biodiversidade de insetos, aves, répteis e anfíbios.

Segundo o estudo Bichos da Esalq, realizado por Silvio Marchini, pós-doutor em Ecologia Aplicada pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP (Cena), e Kátia Ferraz, professora da Esalq, a abundante fauna silvestre do Campus “Luiz de Queiroz” abriga mais de 260 espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios.

Entre os bichos da Esalq, estão capivaras, saguis, siriemas, cágados e morcegos. Há também ouriços, tatus, javaporcos, carcará e teiú. Os pesquisadores constataram que na região já foi até mesmo apontada a presença de onça-parda, o segundo maior felino das Américas (o maior é a onça pintada).

A pesquisa Bichos da Esalq também lista onde os animais estão localizados no campus – já que o Parque Luiz de Queiroz corresponde a somente uma área da Esalq. Para se ter uma ideia do tamanho do câmpus, segundo o Relatório de Divisão Socioambiental do Campus “Luiz de Queiroz”, quase metade (48,85%) de todo o território da Universidade de São Paulo (incluindo o campus da capital) é formado pela Esalq (Piracicaba). 

Além do campus Luiz de Queiroz (914,5 hectares), ao lado há também a estação experimental Fazenda Areão, ainda no município em Piracicaba, o Cena e mais três estações nos municípios de Anhembi, Anhumas e Itatinga (2.910,9 hectares). No total, são 38,2 milhões de metros quadrados.

Espécie exótica Jambo, localizada no parque da Esalq
Créditos: Adrielly Marcelino

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