A era da ansiedade e sua ligação com a comunidade USP

Palestra da Escola de Enfermagem da USP, com o filósofo Luiz Felipe Pondé, exalta questões modernas de saúde mental e dá gancho para discutir a própria comunidade acadêmica uspiana

[Imagem: Licença Creative Commons]

No dia 14 de Julho, foi realizada pela Escola de Enfermagem (EE) da USP uma palestra intitulada “A era da ansiedade”. Com a participação do filósofo Luiz Felipe Pondé, o evento toca em uma questão que cresce em várias camadas da sociedade, inclusive na universitária: a saúde mental. O palestrante buscou abordar um caráter mais sociológico da ansiedade, imaginando-a como uma consequência direta da estrutura produtiva da sociedade moderna.

Na definição de Pondé, a ansiedade se configura como “um tipo de afeto que inunda a pessoa quando ela tem a sensação de iminente perda de controle das variáveis à sua volta”. Além disso, a ansiedade, segundo ele, se liga à necessidade de aceleração constante dos processos na sociedade moderna.

Nesse contexto, o cenário da pandemia, como levanta Pondé, está atuando como um fator- chave para que seja possível analisar realidades sociais, entre elas, o aumento da ansiedade. No Brasil, por exemplo, foi divulgada uma pesquisa do Ministério da Saúde que coloca a ansiedade como o transtorno mais presente durante a pandemia da Covid-19.

Outro fator levantado pela palestra é a ansiedade presente nos jovens hoje, com destaque para a juventude na universidade. Em um cenário de impotência e quebra de expectativas, grande parte dos jovens que entrou na faculdade durante a pandemia observa a perda do controle das variáveis à sua volta. No ambiente acadêmico da USP, localizado no maior e mais clássico cenário de produção do país (SP), a pressão por aceleração e pelo cumprimento de metas e métricas é ainda maior.

Com uma alta sequência de suicídios, o reforço da saúde mental dos estudantes da maior universidade do país se tornou um ponto de atenção e emergência, assim como condições decentes para os alunos que estão morando na USP nesse momento.

Por conta disso, organizações como o Grupo de Trabalho Covid-19, da EE, já colocam a saúde mental como pauta essencial em uma das suas frentes de atuação. Uma área no site do grupo, intitulada “Opções de suporte ao manejo do estresse, fadiga e ansiedade”, busca justamente auxiliar o corpo discente, corpo docente, servidores, profissionais residentes e trabalhadores dos serviços terceirizados da EE em questões de saúde mental durante a pandemia.

O projeto está dividido em áreas e são três no total: “Acolhimento em Saúde do Trabalhador”, “Acolhimento em tempos de crise: um espaço para falar das suas angústias e buscar pacificação íntima” e, por fim, “Ações em Saúde Mental e Atenção Psicossocial”. Em cada uma dessas áreas, é possível encontrar o objetivo do acolhimento, uma seção de agendamento e quem está responsável pela área.

A permanência e bem-estar psicológico dos estudantes da USP, para além da permanência física, ainda parece estar longe de se concretizar em comparação ao tamanho e abrangência da universidade. Mas a criação de canais específicos para a saúde mental dentro da USP pode ser um dos caminhos não para extinguir a ansiedade em si, ideia que segundo Pondé não é possível, mas sim prevenir outros casos traumáticos para a história acadêmica.

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