Estudo analisa como crianças do ensino fundamental processam palavras durante a leitura

Dissertação de Mestrado busca auxiliar jovens com dificuldades de aprendizado, a partir do estudo de morfemas

Foto: Pixabay

Os morfemas são as menores unidades que possuem significado na língua. São os radicais, afixos, desinências e vogais temáticas: pedaços de palavras que fazem sentido sozinhos. A pesquisadora Stéfani Abbate, que estuda o assunto e como os morfemas impactam a habilidade de leitura, trabalhou com crianças do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental e buscou entender como os alunos acessam as palavras no léxico, que é uma espécie de “dicionário mental”, e se um estudo mais intenso da morfologia por parte das crianças pode auxiliá-las nas dificuldades de leitura.

O resultado dessa pesquisa foi a dissertação de Mestrado “O processamento morfológico no português brasileiro em estudantes do Ensino Fundamental”, defendida no dia 7 de abril de 2021.

Metodologia da pesquisa

Durante aplicação de metodologia de pesquisa, a estudiosa utilizou um instrumento de coleta criado pela especialista em Morfologia Fraülein Vidigal de Paula, que também orientou Stéfani na dissertação. O instrumento consiste em produzir algumas listas de palavras e pseudo palavras, que não existem, e que eram dadas para as crianças lerem enquanto a pesquisadora contabilizava o tempo de leitura.

As pseudo palavras incluíam palavras com radicais e afixos existentes, mas cuja combinação não existe, como “nozada”, explica Abbate, que une o radical existente “noz” e o sufixo também existente “ada” — e palavras com algum morfema inexistente mesmo.

Stéfani queria descobrir se, durante a leitura, as crianças liam as palavras como uma unidade apenas ou se faziam o desmembramento dos morfemas. Ela teoriza que “seria interessante estruturar o léxico a partir de morfemas porque ele justamente é capaz de juntar estas três unidades: ortografia, pronúncia e significado”, dessa forma, quando as crianças estivessem aprendendo diferentes palavras, elas já teriam “pistas” de significado, se conhecessem os morfemas.

Conclusões do estudo

Abbate concluiu que, entre os alunos do ensino fundamental que participaram da pesquisa, houve uma maior influência da maneira como as palavras são estruturadas em morfemas no tempo de leitura dos alunos do sexto ano. “Para os outros anos a gente não encontrou, mas aí para a gente falar com com certeza sobre isso a gente precisa de mais estudos”, explica a pesquisadora.

As pseudo palavras foram as que exigiram mais tempo dos alunos do sexto ano, o que significa que existe, pelo menos nessa faixa etária, uma decomposição das palavras em morfemas.

Stéfani hipotetiza que a decomposição em morfemas pode não ser generalizada devido à própria natureza do português brasileiro. Ela explica que esta língua é translúcida, o que significa que o que se lê é relativamente parecido com o que se escreve: existem poucos sons diferentes para cada sílaba. Dessa forma, talvez o desmembramento da palavra em sílabas seja o suficiente para os estudantes dos outros anos.

A pesquisadora explica que, durante o aprendizado da leitura, “conforme você vai lendo, você vai reconhecendo inconscientemente padrões. Isso vale para sílabas, morfemas, frases inteiras”. Esse reconhecimento é implícito, inconsciente, mas ele pode se apoiar em um conhecimento explícito, favorecendo o aprendizado das crianças, como em uma via de mão dupla. “Você pode ensinar a morfologia para as crianças e isso pode ficar automatizado para elas e virar um conhecimento implícito, e o contrário também acontece. O implícito também pode virar explícito, né? Isso faz parte da aprendizagem”, conclui Stéfani.

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