Pandemia dificultou o diagnóstico do câncer de boca

O Programa de Monitoramento de Câncer Bucal tem enfrentado barreiras causadas pelo isolamento social, mas há formas de contornar o problema. [Imagem: Freepik]

O Instituto Nacional do Câncer José de Alencar (Inca) estima que, por ano, ocorram 15 mil casos de câncer de boca no Brasil. Esse dado é ainda mais preocupante pelo fato de que, na maior parte das vezes, o diagnóstico é tardio, o que reduz as chances de cura pela metade. 

Desiree Cavalcanti, estomatologista de Mogi das Cruzes e de Suzano, afirmou, em live do Observatório Ibero-americano de Políticas Públicas em Saúde Bucal, que as maiores demoras no tratamento do câncer de boca estão na busca pelo primeiro atendimento e no diagnóstico do paciente. Segundo ela, o tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico pode ser de mais de 4 anos.

Assim, buscando diagnosticar mais rapidamente essas pessoas, o Programa de Monitoramento de Câncer Bucal do estado de São Paulo recebe, por meio de um ambiente virtual, dados triados a respeito dos pacientes de diversos municípios do estado. O levantamento possibilita que se faça uma classificação de riscos entre pacientes, priorizando o diagnóstico daqueles de alto risco, ou seja, que possuem maior probabilidade de apresentar a doença. Dessa forma, os pacientes têm maiores chances de serem diagnosticados no tempo ideal.

Silvio Abreu, coordenador do programa, ressaltou, também em live do Observatório, a dificuldade que tem sido coletar esses dados durante a pandemia. Desde 2015, eram coletados, por ano, dados de mais de 400 mil pacientes examinados, chegando a quase 630 mil em 2019. No entanto, de janeiro a agosto de 2020, foram acrescidos os dados de apenas pouco mais de 4 mil brasileiros. Isso é um problema pois, sem a triagem, as chances de os pacientes serem diagnosticados no tempo ideal diminuem.

Abreu apresentou possíveis soluções para o problema. Ele acredita ser necessário atrair mais pessoas às Unidades Básicas de Saúde (UBS), e diz que a sensibilização das equipes de Atenção Básica, gestão e liderança local podem ajudar nesse processo. Segundo ele, se esses grupos compreendem o que é o câncer de boca e qual sua importância, podem dar uma atenção maior à questão.

Desiree explica que outra forma de solucionar esse problema é com o treinamento de agentes comunitários, que podem fazer uma análise dos pacientes com hábitos de risco como tabagismo e etilismo. Assim, é possível examinar e diagnosticar pacientes sem que eles precisem buscar atendimento ativamente.

Além disso, a doutora afirma que a comunicação com as demais áreas da saúde é essencial. Segundo ela, muitas vezes a pessoa com sintomas de câncer bucal procura, inicialmente, um médico. Isso pode prolongar o diagnóstico, pois profissionais de fora da odontologia tendem a ter maior dificuldade para identificar o câncer bucal. Segundo ela, médicos e enfermeiros, quando conscientizados a respeito da doença, poderão encaminhar o paciente ao diagnóstico mais rapidamente.

Silvio acrescenta que “nós [profissionais da saúde] temos que levar isso para o nosso dia a dia e, a cada oportunidade de enxergar uma ação para combater essa doença, não podemos medir esforços para implementá-la”.

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