Torre no meio da floresta amazônica ajuda a investigar clima do alto

Observatório de 325 metros de altura permite obtenção de dados difíceis de encontrar no nível do solo

Vista da torre em dia chuvoso © Sebastian Brill/MPI-C

Uma pesquisa em andamento desenvolvida por cientistas brasileiros utiliza uma torre de 325 metros de altura no meio da floresta amazônica para investigar as propriedades atmosféricas da região, bem como os efeitos da destruição da Amazônia no clima local e global, aproveitando a maior altitude para obter informações que seriam difíceis de conseguir no solo.

O Projeto Temático da Fapesp ‘Ciclos de vida do aerossol e nuvens na Amazônia: emissões biogênicas, queima de biomassa e impactos no ecossistema’ – que conta com a participação de cientistas da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e outros centros de pesquisa brasileiros – estuda o ciclo de vida de aerossóis (partículas finíssimas sólidas ou líquidas suspensas num gás), o ciclo de vida de nuvens e as interações desses componentes com a radiação e a precipitação na floresta.

Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e um dos coordenadores do projeto, explica um pouco melhor os pontos de estudo e os objetivos da pesquisa: “queremos entender não apenas os aerossóis, mas links entre emissões da vegetação e controle do clima na Amazônia, a emissão de gases do efeito estufa e alterações pelas mudanças climáticas incorrendo sobre a floresta. Também queremos entender como a ação das queimadas altera o clima local, do Brasil e do planeta.”

Para alcançar seus objetivos, os cientistas utilizam como sítio experimental o Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO, na sigla em inglês), gerido em conjunto por cientistas da Alemanha e do Brasil, que conta com uma torre de 325 metros de altura em plena floresta amazônica, cerca de 150 quilômetros ao norte de Manaus. “É uma plataforma única em todas as regiões do planeta. A torre ATTO permite um conjunto de medidas que seria impossível de obter ao nível do solo, permitindo conhecer propriedades de nuvens, de partículas e de gases”, afirma Artaxo.

Segundo ele, esse projeto permite a investigação do papel da Amazônia nas mudanças climáticas globais, bem como o estudo de fatores que podem significar a sobrevivência ou não da floresta. “Ela é ameaçada por duas grandes vertentes: uma é o desmatamento, causado pelos brasileiros, e outra é o aumento global de temperatura. Se deixarmos a temperatura subir entre 4 e 6 graus Celsius, a floresta que estava acostumada a uma faixa de temperatura estreita e regulada pode não ter condições de sobreviver”, alerta.

Além disso, diz ele, é importante entender como funciona o sistema amazônico em seu estado natural, para que os pesquisadores possam trabalhar com maior competência com as alterações antropogênicas, causadas pelo homem.

A pesquisa, iniciada em 2018 e com previsão de término em 2022, conta com colaborações internacionais da Universidade de Harvard, do Instituto Max Planck de Química e da Universidade de Estocolmo, e segue em andamento mesmo com os obstáculos representados pela pandemia de Covid-19.

A doença, que atingiu Manaus de maneira particularmente forte, forçou os pesquisadores a interromperem algumas das operações em campo porque não podem enviar técnicos para o observatório. “Só o pessoal que está lá em Manaus está operando nossos instrumentos, mas as medições continuam: é um projeto de longo prazo”, diz Artaxo.

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