Não é de hoje que a desinformação sobre as vacinas contra a covid-19 é proliferada pelas redes sociais ou por outros meios de comunicação. Desde o início da pandemia, informações distorcidas, ou fakes news, como são conhecidas hoje em dia, são jogadas aos quatro ventos, sem a preocupação com relação aos efeitos do que isso pode causar.
Mas engana-se quem acredita que esse movimento só começou a existir a partir da pandemia enfrentada atualmente. Movimentos antivacinas existem há muito tempo e no Brasil isso não é diferente. A União Pró-Vacina, iniciativa promovida pelo Instituto de Estudos Avançados (USP-RP), em parceria com diversas instituições científicas e acadêmicas, busca produzir material sobre a importância das vacinas e como podemos combater essas informações falsas.
Como consequência das fake news, uma possível diminuição na quantidade de pessoas dispostas a se vacinar pode ocorrer, e uma análise recente feita pela União mostrou que foram feitas 368 publicações com conteúdos falsos sobre vacinas contra a covid-19 durante dezembro de 2020 e janeiro de 2021, período em que a imunização foi iniciada no país. Se comparado ao momento inicial da análise, feita entre maio e julho de 2020, o número quase quadruplicou.
Em termos de rede social, a análise também demonstrou que mesmo com o posicionamento de remover postagens com conteúdo falso sobre vacinas, o Facebook não conseguiu, de fato, diminuir a ação desses grupos, nem mesmo com um sinal de alerta, forma utilizada para demonstrar que o conteúdo sendo exibido contém informações não comprovadas cientificamente.
O período de maior movimentação coincide com a aprovação feita pela Anvisa e início da vacinação: 39,7%, das postagens citavam diversas teorias utilizadas anteriormente em outros casos, tais como supostos perigos em torno das vacinas e, inclusive, alteração do DNA humano. Em um momento diferente, o enfoque teve que mudar e a análise mostra que, se em 2020 o que mais se via eram teorias da conspiração, agora o foco é nas possíveis reações adversas, mortes, ou algum tema que possa levar a um extremo emocional capaz de incitar o medo e a histeria.
Dentre as 368 publicações analisadas nesse período, foram observadas 3.942 reações, 1.313 comentários e 2.372 compartilhamentos, o que é um número considerável para níveis de engajamento. Em meio a vídeos, links externos, imagens e textos, o Facebook renovou seus métodos de detecção em fevereiro de 2021. Aparentemente, a investida foi efetiva, já que o grupo antivacina mais ativo no Brasil foi impossibilitado de ser acessado, conforme observado pelo Núcleo.
Brasil figura entre países que menos confiam em cientistas
De acordo com estudo feito pelo centro de pesquisas Pew Research Center, o Brasil se encontra entre os países que menos confiam em cientistas e na ciência. O objetivo do estudo era mostrar os países que mais confiam na ciência, e entre eles podemos encontrar nações como Índia, Austrália, Espanha e Países Baixos, enquanto que os menores índices são do Brasil, Japão, Coreia do Sul e Taiwan.
Estudos como esse feito pela Pew Research Center mostram como as fake news podem atrapalhar o saber científico, já que pelo menos 36% dos entrevistados no Brasil disseram confiar pouco ou nada em cientistas. Algo que pode reforçar essa crença é que os mesmos brasileiros que participaram do estudo também deram notas baixas para as categorias de empreendimentos tecnológicos, conquistas científicas e de ensino da ciência. O estudo mostra que a falta de investimentos na ciência pode fazer com que a população acredite menos em sua efetividade.
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