Análise de proteínas permite previsão de sintomas de Covid e Zika Vírus

A existências das pesquisas abre margem para o desenvolvimento de exames que auxiliam o controle hospitalar

Proteínas são essenciais para o funcionamento do corpo humano e para reações imunológicas. Foto: Fusion Medical Animation/ Unsplash.

Estudos comprovam que a análise qualitativa de proteínas permite a previsão do desenvolvimento de sintomas mais graves em pacientes com Covid-19, além de auxiliar no reconhecimento de alterações fisiopatológicas em crianças que entraram em contato com o Zika vírus. 

De acordo com Giuseppe Palmisano, professor no Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB — USP), a quantificação e identificação de proteínas são alteradas ao longo de infecções virais. “Fluidos biológicos de seres humanos, como plasma, soro e urina, funcionam como biomarcadores precoces de doenças, que medem a magnitude de determinada enfermidade. Através deles, fazemos esta análise”, ele explica. 

O pesquisador salienta que, no início da pandemia de Covid-19, o conhecimento dessas estruturas era vago, aprofundando-se com o passar do tempo e facilitando a continuação de estudos. Seu laboratório apresenta duas linhas de pesquisa: a primeira consiste na busca por biomarcadores, enquanto a segunda tenta identificar mudanças nas estruturas dos açúcares que compõem as proteínas do vírus e do organismo hospedeiro. 

Seu trabalho com coronavírus consistiu na análise de um microlitro de plasma de pacientes doentes, com ou sem sintomas graves. Foi utilizada uma tecnologia já existente em laboratórios, desenvolvida para reconhecer bactérias e fungos, o que facilitou o processo. “As proteínas que identificamos nos fluidos coletados se chamam serum amyloid protein, ou proteínas do soro amilóide. Elas se desenvolvem em situações de stress do sistema do organismo. Observamos que pacientes que evoluem para uma forma grave da doença apresentam um aumento significativo dessas proteínas, o qual não é observado naqueles que não apresentam a evolução” o professor sinaliza. 

O principal benefício da análise é, a partir da atuação do biomarcador como prognóstico, ser possível prever o desenvolvimento de sintomas mais graves da Covid-19, reduzindo a carga nos hospitais e possibilitando o controle ativo de pacientes. 

Um segundo estudo realizado por Palmisano teve uma abordagem semelhante em 2019. Através da análise de proteínas localizadas no globo ocular, foi possível detectar alterações nas estruturas do sistema imune e relacionadas a danos oculares em crianças que entraram em contato com o Zika vírus durante a gestação. Conforme o professor explica, uma pequena membrana é colocada na região branca do olho, por pouco tempo. Em seguida, consegue-se capturar todas as proteínas do olho que grudaram nela, de modo as quantificar. “Devido à conexão que existe entre olho e cérebro, observamos essas alterações em bebês que nasceram com ou sem microcefalia”, destaca.

Palmisano lamenta a baixa atenção recebida por seu estudo feito a dois anos atrás, quando comparado às pesquisas de coronavírus. “O artigo foi publicado em uma revista internacional, mas passou menos percebido, porque foi divulgado fora daquele período de pico da doença no país”, ele informa, acrescentando que, durante o pico de Zika vírus, o Brasil havia se tornado um dos principais pesquisadores sobre doenças dele derivadas, como síndromes congênitas.

Em ambas as pesquisas, porém, o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) foi essencial. O pesquisador, por exemplo, elogiou a agilidade da Fundação ao criar uma chamada emergencial de combate à pandemia, permitindo uma rápida disponibilidade de recursos. “Os alunos de doutorado da USP devem ser igualmente lembrados, pois tiveram grande participação nos grupos de pesquisa”, ele diz.

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