Tsunami que matou centenas na Indonésia completa um ano no dia 22 de dezembro

Destruição provocada pelo tsunami em Carita, na Indonésia // Foto: AP Photo

Próximo de completar um ano após as ondas gigantes que atingiram o leste da Indonésia e mataram mais de 400 pessoas, a região ainda tenta se recuperar em meio a constantes terremotos e inundações. O desabamento do vulcão Anak Krakatoa, localizado entre as ilhas de Java e de Sumatra, principais regiões atingidas, teve impacto direto no mar que o rodeava, deslocando uma grande massa de água que ganhou força até chegar ao litoral onde aconteceu o desastre. Segundo pesquisadores, o evento que deixou 47 mil desabrigados poderia ter sido previsto a tempo para preparar a população.

Situada exatamente no círculo de fogo do Pacífico, a Indonésia é um país muito suscetível a eventos decorrentes de atividade sísmica. Por isso, de certa forma, seus habitantes já estão preparados para lidar com isso, contando com a ajuda de aplicativos de celular e outras ferramentas que o governo disponibiliza para avisá-los. No entanto, nenhum terremoto foi detectado antes do tsunami de dezembro do ano passado, por isso, nenhum alerta foi enviado aos moradores. 

O governo foi muito criticado após o incidente, principalmente depois que os cientistas que revisaram os dados coletados disseram que outros fatores poderiam ter sido analisados para prever tal catástrofe. “Você veria uma movimentação de terra mais superficial, teria um número de sismicidade em pontos específicos, além de um fluxo de calor maior, poderia até mudar quimicamente a composição dos lagos que costumam existir dentro desses vulcões”, afirma Marcelo B. de Bianchi, professor de sismologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

A ideia desses pesquisadores agora é fazer uma espécie de protocolo para que se possa analisar outros lugares com intensa atividade vulcânica e antever eventos desse tipo, sem depender apenas dos registros sísmicos. “Esse tipo de observação pode ser usado no futuro para se ter um melhor entendimento de que alguma coisa equivalente pode acontecer de novo”, diz Bianchi. 

Ainda segundo o professor, não dá para impedir que as pessoas morem nessas áreas, mas é necessário aumentar a capacidade delas para suportar acontecimentos como esse. “A tecnologia tem avançado muito, as redes de monitoramento são cada vez mais automatizadas, enviando dados contínuos. Isso também nos ajuda a entender melhor os processos geológicos.”

À esquerda o Anak Krakatoa cinco dias antes do desastre, à direita o vulcão oito dias depois // Foto: Satélite/Planet Labs

O planeta está em constante evolução e seus terrenos passam por diferentes processos que o modificam; o vulcanismo é apenas um deles e pode, inclusive, se apresentar de forma cíclica. É o caso do próprio Anak Krakatoa: “anak” significa filho e remete ao Krakatoa pai, um vulcão que entrou em erupção em 1883 e é considerada a segunda erupção vulcânica mais fatal da história. “Com certeza daqui a vários anos outro vulcão aparecerá ali novamente, podendo colapsar da mesma forma ou entrar em erupção”, completa Bianchi.

Morando sobre o círculo de fogo

Para Bianchi esse tipo de evento é ainda pior quando acontece próximo às grandes cidades. “Essas ações geológicas todas são uma ameaça, um terremoto, um vulcão. A questão é que elas se tornam verdadeiros riscos só quando existe a exposição de pessoas”, afirma o professor, que vê na conscientização da população, em conjunto com as atitudes dos governantes, a melhor saída para evitar impactos sociais tão devastadores. 

Há seis anos morando na Indonésia o brasileiro Glailton Pantoja conta sobre sua vivência que inclui já ter sentido alguns tremores de terra, mas, especialmente, a convivência com o receio de quando eles vão acontecer. “Eu morava em Belém do Pará, nunca tinha passado por isso, aqui essas coisas já são rotineiras. E eu falo para os meus amigos, é sempre uma loteria, nunca se sabe quando pode acontecer.”

Segundo Pantoja, o país tem um departamento político só para esse tipo de evento; lá eles atuam tanto para alertar os cidadãos quanto para ajudá-los depois, com as consequências. “No caso específico do final do ano passado o governo foi bastante criticado porque foi uma catástrofe com muitas vítimas e que poderia ter sido prevista”, relata o morador. Entretanto, para ele, o fato dos cidadãos já estarem acostumados com isso auxilia na reconstrução dos lugares atingidos. 

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