Morfologia da margem continental revela detalhes dos limites territoriais do País

Compreensão auxilia na tomada de decisões estratégicas

Perfil sísmico da margem de Pelotas. Imagem de Jorge Luiz dos Passos Nascimento

Pela primeira vez na história, a margem continental suboceânica das regiões sul e sudeste está sendo mapeada. O intuito do levantamento é compreender não apenas a extensão, mas também a morfologia, ou seja, como foi formada. À partir dos dados, será possível determinar com maior precisão os limites do País e estabelecer as áreas a serem exploradas.

Compreender como a margem oceânica se formou possibilita a determinação de rotas seguras para, por exemplo, realizar a instalação de cabos de fibra ótica conectando diferentes regiões do Brasil com outras partes do mundo.

Atualmente, dois tipos de medições são realizados para identificar a topografia e morfologia da margem continental, são eles: A batimetria, que envia sinais sonoros ao fundo do mar e obtém um perfil (mapa) à partir do reflexo desse sinal captado de volta pelos equipamentos instalados em navios, com essa técnica, é possível compreender a topografia dos terrenos submersos. 

O segundo tipo, usa o perfil sísmico, que também envia sinais ao fundo do mar, mas em ondas sonoras de maior potência e menor frequência, o que permite aos pesquisadores ‘enxergarem’ a composição interna das rochas, sedimentos e crosta.

O pesquisador Jorge Passos está analisando os dados das medições coletadas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) e explicou como funciona o processo.

“Quando o sinal é enviado do equipamento instalado no navio, ele é parcialmente refletido e parcialmente absorvido. Essa parcela absorvida chega a profundidades de até 7 quilômetros, e de acordo com a composição dos sedimentos, uma parte do sinal é refletida e outra é novamente absorvida, cada reflexão retorna ao navio em uma determinada velocidade, e baseado neste tempo de resposta e da forma da onda recebida, é possível compreender quais tipos de matérias formam as camadas da margem continental”.

Jorge, que conduz os estudos nos laboratórios do Instituto Oceanográfico, diz que não é possível afirmar categoricamente qual a composição exata sem uma amostra colhida diretamente do fundo do mar, mas pondera que “a quantidade de estudos similares e as diferentes coletas de dados permitem que se chegue a resultados muito confiáveis”.

A margem continental é dividida basicamente em três camadas: plataforma continental, talude continental e sopé continental. Essas fatias estão todas assentadas sobre a crosta oceânica. Quando acontecem terremotos ou abalos sísmicos, a crosta oceânica se movimenta. Foi dessa forma que a América do Sul se separou da África entre os períodos Jurássico e Cretácico. 

Quando acontece essa divisão, a matéria orgânica que afunda, forma bolsas de petróleo. Se houver a presença de água salgada durante o processo de separação, camadas de sal podem ser formadas acima dessas fatias de petróleo.

Com o passar do tempo, essas camadas afundam a milhares de quilômetros de profundidade. “Nessas condições, o sal muda de estado físico devido às altíssimas pressões, se tornando praticamente uma camada maleável, como se fosse um tipo de plástico”, afirma Passos.

Assim, o sal cria uma espécie de camada selante, que ‘prende’ tudo que está abaixo dela, o que às vezes pode ser petróleo. A isso se chama de pré-sal, pois a camada de petróleo fica abaixo de uma camada de sal.

“Mas a pesquisa não busca encontrar petróleo, estamos apenas identificando a morfologia, além disso, essas camadas de sal refletem praticamente todo o sinal que os equipamentos de perfil sísmico enviam, portanto é difícil afirmar o que está abaixo dessas ‘fatias’”, explica o pesquisador.

No entanto, Passos pondera que é possível que especialistas da área de exploração de petróleo “utilizem esses dados para identificar sinais da presença de petróleo, mas é algo que somente quem atua especificamente nessa área poderia afirmar, nosso papel não é esse”.

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