Criação de garoupas em cativeiro pode oferecer alternativa alimentar

Criações de camarões e bijupirás são casos bem sucedidos

Tanques para criação de peixes em cativeiro. Foto de Rafael Coelho

A criação e produção de peixes em cativeiro é uma técnica utilizada há tempos para a produção de alimentos. No entanto, no Brasil, a produção de peixes de água salgada explora apenas duas espécies comercialmente: camarões e os peixes bijupirá, algo que pode mudar em breve, já que o pesquisador Rafael Coelho busca desenvolver formas de tornar viável a produção de garoupas, o que expandiria a oferta de proteína animal aos consumidores. 

Com as crescentes preocupações em torno da necessidade de se reduzir o consumo de carne bovina, que impacta o meio ambiente de diversas formas, como consumo de água, emissão de gases do efeito estufa e desmatamento de áreas para a pecuária extensiva, tornou-se mais recorrente a proposição do consumo de outras fontes de proteínas.

De acordo com dados do Ministério da Agricultura, o brasileiro consome em média dez quilogramas de carne de peixe por ano, enquanto a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de pelo menos 12 quilogramas anuais por pessoa. No Japão, essa média é muito superior, chegando à 60 quilogramas anuais por habitante.

O pesquisador Rafael Coelho, do Instituto Oceanográfico (IO), estuda formas para diversificar e tornar mais sustentável a criação e produção de camarões, bijupirás e garoupas. De acordo com ele, com o avançado estágio de experiência na produção dos camarões, hoje a grande preocupação em torno da criação da espécie gira em torno da alimentação.

“Do ponto de vista nutricional, o alimento ideal para camarões e peixes em cativeiro é o farelo de peixe, pois oferece um grande valor nutritivo, mas ele é caro e não possui qualidade constante. Por isso, hoje estudamos sua substituição por alternativas mais sustentáveis, como os farelos vegetais e animais. Os camarões hoje consomem uma ração composta por cerca de apenas 10% de farelo de peixe, enquanto para os bijupirás a proporção ainda é de cerca de 50%, número acima do ideal”.

Já no caso das garoupas, Rafael explica que apesar de existir uma empresa, a Redemar Alevinos, que já experimentou a criação em cativeiro, ainda não existe literatura científica sobre a prática, e nesse caso, seu estudo busca estabelecer todos os princípios básicos para a produção, como quantidade de peixes por tanque, tipo de alimento, frequência com que é necessário se oferecer a ração, tempo de crescimento e rendimento da espécie.

A garoupa foi escolhida para sua pesquisa atual por ser economicamente atrativa, por já ter sido criada em cativeiro e por ser uma espécie conhecida. Ele não sabe afirmar qual seria exatamente o valor comercial da espécie, mas informa que, atualmente, o preço do bijupirá gira em torno dos R$ 40 por quilograma e que, tendo em vista os desafios da criação em cativeiro, os produtores optam por espécies de maior valor agregado para terem uma maior lucratividade com uma produção de pequena escala.

“No futuro, as espécies que provavelmente suprirão a demanda por proteína de peixe são a tilápia, de água doce e talvez a tainha, que é um animal marinho. Mas, neste momento, a aposta é nos peixes menos populares”, comentou Coelho.

Sobre o rendimento das espécies, o pesquisador explicou que em 18 meses de criação, os bijupirás atingem cerca de quatro quilogramas, enquanto no mesmo período, as garoupas chegam a 500 gramas. Essa diferença se deve, em parte, aos ciclos de vida distintos, pois a primeira espécie vive em média 15 anos, enquanto a segunda chega à 50. Mas ele pondera que “esse rendimento é relativo, pois pode-se chegar à conclusão que o abate da garoupa pode acontecer quando o animal atinge um peso menor, como 600 gramas ou um quilograma”.

A pesquisa de Rafael está apenas em estágio inicial, mas ele acredita que a garoupa pode se mostrar comercialmente viável, e aposta que nas próximas décadas, esse modo de produção será fundamental para ajudar a atender à demanda por proteína da população.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*