Uma criança muito pequena estabelecendo os primeiros contatos com os membros da família já está na cultura. Mesmo sendo bebê, já está apto a consumir ou experimentar produções culturais e situações artísticas. Foi o que Maria Paula Zurawski, docente de Pós-Graduação em Gestão Pedagógica e Formação em Educação Infantil do Instituto Superior de Educação Vera Cruz – concluiu em sua tese de doutorado na Faculdade de Educação da USP.
O olhar da pesquisadora é muito mais focado nas relações que estabelecem nesses lugares, no momento em que o espetáculo ocorre entre as famílias, os bebês e os artistas. Segundo Maria Paula, o teatro oferece às famílias uma oportunidade de estarem juntos e participando de uma situação que é valorizada culturalmente. “O teatro para bebês seria mais ou menos como as primeiras papinhas que um bebê passa a consumir para diversificar sua dieta alimentar. Nesse caso, diversificar suas possibilidades culturais”
Os criadores de teatro para bebês estão envolvidos em estudar a fundo a primeira infância, com um cuidado muito grande na hora de fazê-lo e garantir às crianças o direito de ter boas experiências. Esses artistas acreditam em um olhar poético e característico vindo desses bebês e passam essa ideia para as famílias, a fim de respeitá-los. O teatro, nesse contexto, é afirmar essa criança como sujeito, participante, alguém que muda a cultura além de ser mudada por ela. “Visibilidade para o bebê como alguém que existe, o bebê não é mais aquela coisinha pequenininha que não sai de casa e que não reconhece sua potência”, diz a estudiosa.
A principal diferença entre o teatro convencional e o teatro para bebês é o texto. Em algumas produções, o texto está totalmente ausente. O corpo e o gestual dos artistas é muito explorado em cena privilegiando formas que se aproximam das danças e performances. “Teatro muito contemporâneo na maneira como os artistas encontram soluções estéticas para conversar com esse público para quem o espetáculo se dirige”, diz a pesquisadora. Além disso, é um teatro que necessita da proximidade dos atores com a plateia, por isso, dificilmente será encontrado um teatro para bebês organizado em um palco italiano.
Um ponto observado por Maria Paula no processo de sua pesquisa, foi de que o teatro começa antes mesmo da apresentação e não se resume a ela. Exige um preparo em arrumar os itens necessários, como muda de roupas e mamadeira. Ademais, a maioria das companhias que trabalham com esse tipo de teatro possui um espaço para recepcionar essas crianças.
Esse espaço é um local de convivência em que a família e os bebês ficam juntos até o espetáculo começar. Segundo a autora, a partir desse momento, existe uma possibilidade das famílias olharem para si próprias e para os seus bebês no momento em que relacionam com outras crianças. “Aquelas coisas que acontecem quando crianças estão em situação coletiva”. Ela dá um exemplo: “Olha filho, está vendo o que ele tem”.
O teatro para bebês se aproxima com a educação infantil uma vez que promove mudanças, transformações e desenvolvimento. No entanto, a forma não é puramente educativa, ela contém sua poesia e arte como em qualquer outro teatro. “O teatro traz assunto. Uma família que frequenta o teatro regularmente com as crianças possui um repertório de conversas e de percepções sobre o mundo”. Segundo a pesquisadora, como não é todo mundo que possui esse hábito, a escola acaba tendo certa responsabilidade em promover esse trabalho concomitante à educação.
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