Uso de protetor bucal tem influência psicológica no desempenho de atletas

Apesar de não ter evidências clínicas que comprovem melhora em campo, esportistas relatam evolução na atuação pelo aumento da confiança

Protetor individualizado reduz o risco de fraturas ósseas e dentais na prática esportiva [Imagem: Profissão Dentista]

A prática de esportes é um hábito essencial para uma vida saudável. A movimentação do corpo reduz o risco de doenças cardiovasculares, melhora a resistência física e libera endorfina no organismo, hormônio responsável pela sensação de bem-estar. Mas toda atividade tem seus riscos, por isso, o uso do equipamento de proteção adequado é indispensável para seus praticantes. Pensando nisso, a pesquisadora Ayran Luzzi di Fonzo resolveu investigar, em sua dissertação de mestrado pela Faculdade de Odontologia da USP (FOUSP), qual a influência que o uso de protetores bucais exerce sobre o equilíbrio e postura de atletas.

A ideia, orientada pelos professores Reinaldo Brito Dias e Neide Pena Couto, surgiu a partir de um grupo de jogadores do São Paulo atendidos pela Universidade. Eles chegavam, na maioria das vezes, por fraturas nasais buscando a confecção de protetores faciais. “Atendiamos bastante atleta de futebol aqui. O Álvaro Pereira [ex jogador do São Paulo] disse uma vez que usava uma plaquinha de mordida para treinar e sentia que a postura ficava melhor, o corpo ficava mais ereto e ele se sentia mais predisposto a praticar a atividade”, conta ela, que decidiu estudar a relação a partir do relato de Álvaro e de outros jogadores.

Apesar do pontapé inicial com o futebol profissional, a pesquisa estendeu-se para outros esportes e teve um foco na confecção de protetores bucais para atletas da própria universidade, que utilizavam o equipamento e, posteriormente, relatavam suas impressões. “A gente atendia a comunidade usp de várias modalidades, mas o rugby foi o que mais veio porque o uso [do protetor] é obrigatório para os jogadores”, explica ela. O apetrecho evita fraturas ósseas e dentárias, além de reduzir o risco de traumas na articulação da mandíbula. “É um equipamento fundamental como o capacete e outros instrumentos de proteção porque ele protege a estrutura oral”.

Modelo de protetor bucal confeccionado na universidade [Imagem: Ayran di Fonzo]

O material utilizado é o EVA, uma espécie de borracha flexível de baixo custo muito empregada na produção de artesanatos. “É um copolímero bem macio e confortável. A única coisa é que ele fica um pouco volumoso porque tem que ter uma espessura mínima de proteção”. O volume provoca uma pequena alteração na altura da face, no entanto, não causa nenhuma mudança visível por fotografia ou efeito clínico relevante. “Tem gente que diz que não vai usar protetor bucal porque muda o corpo e atrapalha o desempenho, e mostramos que isso não acontece. Você pode usar e ainda se sentir mais confiante por evitar fraturas” conta a autora.

Produzidos pelo Laboratório de Pesquisa em Odontologia do Esporte e Biomecânica (Lapoebi), os protetores utilizados no estudo são individualizados. Eles são moldados a partir da arcada dentária de cada usuário, ao contrário dos pré-moldados vendidos em lojas de artigos esportivos, que costumam ser desconfortáveis por não se encaixar de forma adequada a boca. Segundo a autora, o encaixe é importante pois os atletas precisam ficar mordendo o equipamento o tempo todo, e uma colocação errada pode gerar desconforto e desestimular o uso. Outro ponto importante é que, por serem feitos sob medida, não atrapalham na hidratação, respiração e na fala durante treinos e competições, garantindo que a comunicação não seja afetada.

O eva é moldado a partir da arcada dentária do usuário, garantindo um encaixe confortável [Imagem: Ayran di Fonzo]

Os resultados encontrados por Ayran, no entanto, ficaram mais no campo psicológico. Segundo ela, apesar dos benefícios do uso, não se pode afirmar com precisão que o protetor influencia positivamente no desempenho em campo, seria necessário um novo estudo comparando grupos que utilizam o protetor e outros que praticam a modalidade sem o mesmo. Os relatos dos atletas, entretanto, mostram que o fator psicológico causado pela utilização melhora ao menos a percepção dos praticantes em relação ao próprio desempenho. “O protetor bucal não altera a postura e nem o equilíbrio de forma significativa clinicamente, mas os atletas relatam se sentir mais confiantes e por isso sentem que têm uma melhora do desempenho esportivo”, conclui a pesquisadora, que não descarta futuras pesquisas sobre o assunto.

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