Dentistas precisam ter cuidados especiais com pacientes oncológicos

Odontologia oferece curso que aborda os principais pontos de atenção que os profissionais devem ter ao atender pacientes com câncer. [Imagem: divulgação]

Foi lançado o curso de extensão “Assistência odontológica para para pacientes com Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT): Pacientes com Câncer”, que tem como objetivo orientar os profissionais da odontologia para que possam atender pacientes com câncer da melhor forma. Seu público-alvo são, principalmente, os dentistas que atuam na rede pública, mas todos os interessados pela temática podem se inscrever.

O curso é oferecido pela Faculdade de Odontologia da USP (Fousp) no âmbito do programa Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNASUS). A Universidade Federal do Maranhão (UFMA), com a coordenação da professora Ana Emília Figueiredo de Oliveira e o apoio do Ministério da Saúde, conduz uma equipe que envolve design instrucional, pedagógico, tecnologia da informação e comunicação.

Esse curso é parte de um conjunto de duas trilhas, que totalizam seis unidades. Cada unidade foca em uma área diferente, e, segundo a professora Ana Estela Haddad, idealizadora desses cursos, todas possuem ênfase em qualificar o atendimento odontológico na atenção básica à saúde e no Sistema Único de Saúde (SUS). As unidades contam com o trabalho de professores da Fousp, que atuam como conteudistas e validadores do conteúdo.

A unidade de assistência odontológica para para pacientes com câncer teve como autor de seu conteúdo Fábio de Abreu Alves, professor da disciplina de Estomatologia Clínica da Fousp. Ele afirma que uma das ênfases do curso é no diagnóstico precoce do câncer de boca. Segundo ele, esse câncer é o quinto mais comum em homens e o oitavo mais comum em mulheres, mas, ainda assim, é pouco conhecido. De acordo com os dados do Instituto Nacional do Câncer José de Alencar, estima-se que, no ano de 2021, o câncer de boca acometerá aproximadamente 15 mil brasileiros.

O professor dá destaque ao alarmante dado de que mais de 70% dos casos de câncer de boca são diagnosticados tardiamente, o que reduz as chances de cura de 90% a menos de 50%. Ele afirma que, com a orientação correta, os dentistas serão capazes de fazer o diagnóstico precoce da doença e, então, esse cenário pode mudar. 

O curso aborda, também, formas de dar o melhor atendimento odontológico a pacientes com qualquer outro tipo de câncer. Fábio Alves relata que pacientes em tratamento oncológico, por estarem imunossuprimidos, podem, muitas vezes, ter seu tratamento interrompido em razão de problemas odontológicos, como um foco de infecção na boca ou um dente quebrado. Além disso, esses pacientes, quando submetidos a quimioterapia ou radioterapia, podem apresentar feridas na boca, as chamadas mucosites, como efeito colateral, o que também pode comprometer sua saúde e seu tratamento.

Alyne Simões, professora associada do Departamento de Biomateriais e Biologia da Fousp, acrescenta: “Quando o paciente oncológico é submetido ao tratamento, por exemplo, a radioterapia de cabeça e pescoço, que é bem na região de cabeça e pescoço o tratamento, e onde se encontram anatomicamente as glândulas salivares, essas glândulas estão no campo de radiação, muitas vezes. Elas, então, são, também, atingidas pela radioterapia. Esse efeito da radioterapia é nocivo para as glândulas salivares, então causa uma série de alterações na morfologia dessas glândulas, alterando a sua função. […] É isso que a gente geralmente estuda nos pacientes oncológicos. E a tentativa é de minimizar esse efeito colateral do tratamento oncológico, melhorando a qualidade de vida do paciente e diminuindo o risco do aumento da severidade de outras complicações por conta também dessa diminuição da proteção da cavidade oral que a saliva desempenha.”

Esses problemas na cavidade oral podem ser algo muito negativo aos pacientes que estão em tratamento oncológico, pois, ao interromper esse tratamento para cuidar da saúde bucal, as chances de cura do câncer diminuem. De acordo com o professor Fábio, um cirurgião dentista corretamente orientado é capaz de prevenir ou amenizar esses problemas.

Ele afirma que “a cavidade bucal tem relevância por ter um grande número de câncer na cavidade oral e ela tem relevância durante o tratamento, ou seja, ela pode complicar, por uma infecção odontológica, o tratamento desse paciente, e muitos efeitos colaterais podem acontecer na boca dos pacientes que estão em tratamento oncológico”. Por isso, buscando facilitar o tratamento oncológico, o curso oferecido pela Fousp foca nessas questões.

O professor acrescenta que a graduação em odontologia aborda esses temas de forma muito básica e que, durante os cinco anos de graduação, apenas poucas horas são dedicadas ao atendimento a pacientes com câncer. Por consequência, para dar o devido auxílio odontológico a esses pacientes, se faz necessário buscar conhecimento além do curso de graduação.

O Curso de Extensão “Assistência Odontológica para Pacientes com DCNT: Pacientes com Câncer” surgiu com o intuito de suprir essa necessidade. Com carga horária de 45 horas, o curso é gratuito e completamente virtual. A professora Ana Estela Haddad ressalta que “é um curso autoinstrucional, por isso não tem limites de inscritos e de vagas, mas não deixa de ter toda uma abordagem e um planejamento pedagógico muito cuidadoso”. Segundo ela, o curso tem a proposta de ser traduzido e internacionalizado, mas essa proposta ainda não foi concretizada pois depende de um financiamento.

As inscrições estarão abertas até dia 12/07/2021 e podem ser realizadas pelo link http://bit.ly/3p4BRIb.

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