A era digital proporciona diversas formas de representação do nosso cotidiano, inclusive do espaço. Voltado para essa questão, Ivan Custódio dos Santos Souto investigou a questão na dissertação de mestrado Navegando na cidade intangível. Representação da informação urbana em ambientes virtuais, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU USP). Durante o trabalho, Souto traçou um paralelo entre o cenário urbano real e o virtual, e repercutiu nas percepções da tecnologia e da cognição de cada indivíduo.
Representar a cidade em um ambiente virtual era uma realidade inevitável. A quantidade de informações que existe hoje dá insumo para a utilização de ferramentas do design e de comunicação. Souto aponta que essa intersecção de áreas é a chave para o sucesso nesse segmento e que continuará tendo relevância no contexto que se desenha para o futuro.
Mas, onde tudo isso se encaixa? Souto afirma que entender o espaço em que habitamos é fundamental para explorar a total experiência que se pode viver, além de ter o suporte dessas ferramentas como facilitadores das atividades do cotidiano. “Traduzir graficamente questões relativas ao espaço urbano é importante, de modo geral, para cidadãos que buscam informações sobre o espaço que habitam, buscando tomar decisões que melhorem sua vida e a cidade”.
Apesar da busca pela incrementação do aspecto tecnológico no cenário diário ser um desafio para desenvolvedores, a utilidade dos programas criados são o principal diferencial, de acordo com o pesquisador. “A possibilidade de permitir que o usuário adapte os parâmetros que formam a representação, de modo que melhor se ajuste ao seu processo de compreensão, é o fator que considero mais significativo ao pensarmos processos do design de informação no ambiente digital”.
Um fator que facilita essa transposição do real para o virtual é o desenvolvimento das ferramentas digitais. Inovações desse tipo tem crescido no campo da arquitetura e urbanismo, segundo Souto. A popularização de ferramentas de caráter gráfico permite que representações mais transigentes e com mais conteúdo possam ser desenvolvidos, além de tornar esse recurso mais acessível à população.
Foram utilizados, na pesquisa, programas que, principalmente, trabalhassem com programação adaptada ao design, facilitando a interação. Entre eles, a linguagem Processing e ferramentas voltadas à criação de games, como Unity, além de recursos de softwares de geolocalização.
Cognição
O pesquisador explica, ainda, que os modelos urbanos que cada pessoa possui em mente fazem com que a percepção do virtual, mesmo padronizada, seja diferente. Isso porque as pessoas têm uma carga distinta de experiência, que torna complexa a representação cognitiva individual. “Cada um de nós constrói modelos internos de como funcionam as dinâmicas urbanas, formados pelo resultado da interação de estímulos sensoriais e percepções obtidas na vivência no ambiente, de relações pessoais e de acesso à informação”.
Muitas abordagens analisam, por exemplo, como aspectos espaciais do ambiente influenciam nosso comportamento e nossas decisões no espaço urbano. A escala da metrópole, entretanto, limita a possibilidade de acessar fenômenos por meio da vivência. “Além disso, uma proporção cada vez maior das relações econômicas e sociais estão baseadas no ambiente digital e reverberam no ambiente físico”.
O uso desta tecnologia para além da simples representação também é notável. O pesquisador afirma que sua utilização em projetos urbanos e esferas educacionais possam incrementar a importância no desenvolvimento desse tipo de instrumento, desde a infância até ambientes acadêmico, nas diferentes compreensões do espaço da cidade.
Souto aponta, ainda, que esse tipo de representação pode ser usado no futuro como ferramenta tecnológica de conhecimento. “Grande parte da população urbana tem acesso muito limitado às questões da cidade e, representações em caráter informativo, de fácil distribuição, podem fazer parte de políticas públicas para ajudar a resolver parte desse déficit”.
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