Suplementos adulterados circulavam sem aval da Anvisa no Brasil

Foto: Arquivo/Agência Brasil

Cento e vinte e cinco suplementos nutricionais foram analisados em busca de casos de adulteração com estimulantes e medicamentos para inibição de apetite, os anorexígenos, durante a pesquisa de mestrado de Margarita María Muñoz Henao, desenvolvida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Trinta por cento dos suplementos estudados apresentaram resultado positivo para alguma substância de interesse, com as duas substâncias mais comuns sendo sibutramina e cafeína.

A sibutramina é um medicamento controlado utilizado no tratamento da obesidade. Sobre os riscos de seu uso como adulterante Margarita explica: “Como trata-se de um anorexígeno, tem efeitos cardiovasculares. Se a substância não é discriminada no rótulo não é possível prever, por exemplo, uma interação medicamentosa”.

Já a adulteração com cafeína pode ser um problema por não permitir acompanhar a quantidade consumida: “Apesar de ser uma substância comum no dia a dia, se o rótulo não informa a quantidade contida no suplemento é possível que o consumidor ingira muito mais do que o que a dose diária recomendada, levando a problemas de saúde”, diz a pesquisadora.

As principais substâncias adulterantes encontradas pelo estudo foram sibutramina e cafeína. Foto: Pixabay

Foram avaliados tanto suplementos de fabricação nacional quanto importados e a análise concluiu que os mais adulterados eram os de origem brasileira e estadunidense.

A dissertação trabalhou ainda para diferenciar os casos de adulteração, quando a substância é colocada propositalmente no suplemento, e os de contaminação, em que a presença desses elementos é acidental. Margarita se refere aos casos de contaminação como “a falência das boas práticas de fabricação”, já que, em muitos deles, ocorre a chamada contaminação cruzada, em que traços de uma substância produzida em determinado local acabam aparecendo em outro produto. “Consideramos como adulteração quando encontramos quantidades de substância acima da dose diária ‘recomendada’ desses estimulantes, pois deduz-se que ela foi colocada ali buscando algum resultado”, esclarece ela.

O tema ganhou atenção pela necessidade brasileira de criar regulamentação para os suplementos nutricionais. Até junho de 2018 não existia nenhum tipo de controle da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sob esses produtos. O projeto de Margarita foi realizado em uma parceria entre a Anvisa e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, apesar de não ter sido determinante para a regulamentação criada, faz parte do movimento para entender os suplementos no país: “As únicas pesquisas que o Brasil tinha sobre suplementos eram sobre suplementos a base de ervas. Agora, o Brasil tem regulamentação. A atenção nacional está começando”.

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