Prática de exercício físico melhora imunidade de pacientes com doença pulmonar

Atualmente, estima-se que 95% dos portadores de DPOC são ou foram tabagistas. Foto: Matheus Oliveira

De acordo com um levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano de 2015, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é a quarta maior causa de morte no mundo, acometendo cerca de 3,17 milhões de pessoas apenas no ano de publicação do relatório. A doença se caracteriza pela infecção e deterioração dos tecidos pulmonares, comprometendo a mobilidade e qualidade de vida dos pacientes nessa condição. Coordenado pela pesquisadora da Faculdade de Medicina (FM) da USP, Juliana Ruiz, um estudo intitulado “Efeito do exercício físico na resposta imunocelular em pacientes com DPOC” buscou avaliar os impactos que a prática da atividade física poderia trazer à imunidade de portadores da doença. Os resultados expressam que, assim como em indivíduos idosos saudáveis, hábitos não sedentários ajudam a ativar e estimular a resposta imunológica celular dos enfermos.

Juliana explica que a ideia de levar a pesquisa a cabo surgiu a partir da constatação de que idosos saudáveis que praticam exercícios físicos conseguem regular o envelhecimento celular de modo mais eficiente do que àqueles que levam uma vida sedentária. Segundo ela, os impactos desse ajuste podem ser vistos por exemplo na vacinação, que tem efeitos mais duradouros em anciões ativos: “Começamos a perceber que haviam alguns parâmetros normais do envelhecimento que o exercício era capaz de regular. Por exemplo, vimos que tínhamos um impacto benéfico na vacinação, que durava mais tempo. Então começamos perguntar o que aconteceria com um indivíduo doente, que dificilmente faz um exercício”.

A pesquisadora enfatiza que, para a literatura médica, é sabido que os portadores de DPOC possuem um envelhecimento celular acelerado. “Então um sujeito que tem 50 anos, celularmente tem característica de um idoso de 80”. A partir dessas constatações, a pesquisa se voltou a analisar os efeitos que a atividade física poderia trazer ao sistema imunológico de um grupo pacientes do Hospital das Clínicas.

O estudo, que também é o projeto de dissertação de mestrado da pesquisadora, se desenvolveu em duas fases. Na primeira, um grupo de pacientes composta por tabagistas e ex-tabagistas, todos com doença pulmonar (DPOC), foi submetida a uma coleta sanguínea cujo o material foi processado no mesmo dia. Posteriormente, foram separadas as células mononucleares do sistema periférico ー que são as responsáveis por defender nosso organismo de ataques externos ー e essas células receberam o estímulo de dois microrganismos: do vírus PNV, maior responsável por otites e amigdalites; e da bactéria Haemophilus influenzae, constantemente associada a casos de pneumonia em portadores de DPOC.

Em um segundo momento, os pacientes foram introduzidos à uma rotina de atividade física moderada durantes três meses. Ao final do período, uma nova coleta sanguínea foi realizada e se compararam os resultados da resposta imune celular aos microrganismos, antes e depois da adoção dos exercícios.

A pesquisa concluiu que os pacientes sedentários com DPOC estão mais propensos aos ataques de microrganismos, dado que suas células de defesa reagem mais lentamente e em menor intensidade que em indivíduos fisicamente ativos. Em contrapartida, após a adoção dos exercícios, a resposta celular imunológica se mostrou mais ativa, ou seja, as células passaram a atacar os microrganismos nocivos à saúde do paciente de forma mais efetiva.

Juliana conta que os resultados obtidos são promissores, pois podem se mostrar como uma nova maneira de auxiliar a resposta imunológica dos pacientes e reduzir as constantes infecções que eles possuem. “Esses pacientes geram muitos gastos para o sistema de saúde porque têm infecções recorrentes, como pneumonia e sinusite bacteriana. Como estamos melhorando a resposta imunológica deles, possivelmente haverá menos casos de infecção”.

O avanço da doença do mundo

A DPOC é uma doença causada pela exposição a agentes exógenos, principalmente pelo hábito prolongado do tabagismo, responsável por 95% dos casos no mundo. Ambientes com partículas suspensas, como carvoarias, também podem levar à enfermidade a depender do tempo de exposição do indivíduo.  A pesquisadora explica que “A prevalência da DPOC tem aumentado no mundo todo devido a maior exposição aos fatores de risco”, e “Esse aumento de exposição agregado a maior expectativa de vida da população tornou a DPOC uma epidemia, prevista para se tornar a terceira maior causa de mortalidade até 2020″.

Segundo o estudo Tabagismo no Brasil: Morte, Doença e Política de Preços e Esforços, elaborado com dados de 2015, o Brasil perde, em média, R$ 60 bilhões por ano com doenças decorrentes do tabagismo. Dessas, a que mais custou aos cofres públicos em 2015 foi a DPOC, consumindo R$ 16 bilhões.

A doença acelera o envelhecimento das células do pulmão e compromete os alvéolos, responsáveis por filtrar o ar que entra e saí do órgão. Com o comprometimento dessa função, o ar fica preso no pulmão e torna atividades rotineiras, como subir um lance de escadas, algo extremamente exaustivo. Além disso, as vias aéreas desses pacientes, como os bronquíolos e as cavidades nasais, passam a ficar inflamadas, o que reduz o espaço para a passagem de ar e acomete todo o sistema respiratório.

Juliana adverte que as limitações impostas pela doença causam imensos prejuízos nas atividades diárias dos enfermos, o que também prejudica a convivência em meio social, podendo inclusive trazer à tona diversos transtornos psicológicos, como a depressão “Eles sentem dificuldades nas pequenas atividades diárias, então tomar um banho já é difícil para eles. Assim o convívio social também é prejudicado.”

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