Doutorado com forma inovadora é aprovado na FEA-USP

Pesquisa foi efetuada em acordo com Universidade de Antwerp

Daniel Mucci acredita que outros trabalhos de pós-graduação podem seguir o mesmo modelo(Imagem: Representação)

Os trabalhos de doutorado desenvolvidos na Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP) costumam ser efetuados em forma de livro e possuírem apenas uma tese. A dissertação desenvolvida por Daniel Mucci foge dos padrões porque foi feita com um modelo externo da Universidade belga.

O pesquisador teve a oportunidade de fazer um “sanduíche” que culminou em um duplo diploma em controladoria e contabilidade pela USP e outro em economia aplicada em Antwerp. Ao efetuar esse processo, o atual doutor teve a oportunidade de escolher entre o modelo da faculdade paulista ou na formulação de artigos.

“Segui a orientação, tanto do professor Fábio Frezatti quanto da professora Anna Joanna Antonia Jorissen e, estruturamos a tese para ser formada por três artigos, que compõem um quadro teórico mais amplo” afirmou Daniel Mucci.

O modelo apresenta uma introdução geral que contava com uma explicação sobre a história de cada um dos artigos, além de possuir o referencial teórico e a metodologia utilizada. A partir disso, se construiu os artigos, que possuíam: introdução, referencial teórico, hipóteses e análise das conclusões. Por fim, foi executada uma conclusão geral do trabalho.

De acordo com o pesquisador, não era possível executar a tese em forma de livro porque cada um dos artigos possuía um ponto de vista conceitual próprio. Caso houvesse feito essa junção correria o risco de cometer um erro juntando explicações que não convergem e não teria o cuidado teórico necessário.

O trabalho de doutorado já possui potencial de publicação, sendo apenas necessárias algumas reflexões para enviá-los às revistas. “É uma grande vantagem. Porém, é necessário ponderar que não é simples porque, do ponto de vista da densidade teórica, pode-se dizer que são três trabalhos em um” concluiu.

O resultado dos artigos

A pesquisa compreendeu de que forma a proposição de objetivos e avaliação de desempenhos nas empresas familiares do Brasil. De acordo com o pesquisador, o tema é de extrema importância porque a literatura brasileira não faz uma análise profunda das particularidades das empresas familiares.

Um dos focos foi a análise com base em uma teoria emergente de contabilidade – Stewardship. De acordo com ela, os gestores atuam nas empresas de forma motivada e, dessa forma, estariam dispostos a agir em prol da empresa por confiarem internamente na gestão. A ideia era fugir da teoria da Agência, a qual aponta que os gestores agem de forma individualista e buscam o resultado pessoal, o que provocaria um melhor resultado para as empresas.

O primeiro artigo evidencia o fato de que as particularidades das família determinam a forma com que os sistemas de gestão são desenhados. Além disso, apontou para o fato de quanto maior o nível de participação familiar – nas proposições de metas e avaliação de desempenho – menor o grau de formalização e participação dos funcionários.

Conflito com a teoria

De acordo com os livros, acreditava-se que a cultura de stewardship seria melhor caracterizada em um ambiente na qual a alta direção fosse comandada por membros da família. O terceiro artigo que compunha a tese aponta de forma contrária a teoria.
“A literatura dizia que quando se tem membros da família e cultura stewardship geraria um maior desempenho, mas o estudo apontou o outro lado. Na ausência de membros da família na gestão, se atinge um maior desempenho tendo essa cultura” afirmou.

O pesquisador ainda não obteve explicações que justifiquem o resultado e não terminou de concluir teorias sobre o assunto.
Ele também afirmou que o modelo para a construção do terceiro artigo pode ter se tornado frágil, porque existe uma dificuldade em mensurar as culturas presentes nas empresas estudadas e o Brasil possui algumas particularidades que não estão presentes na literatura.

“Eu tinha uma amostra de 150 nos outros artigos, mas no terceiro tive uma amostra de 60. Isso também torna o modelo frágil, talvez se eu tivesse 100 ou 120 o resultado seria diferente, mas tudo faz parte das limitações do trabalho mesmo” encerrou.

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