Um estudo do Laboratório de Biologia Oral da Faculdade de Odontologia da USP pretende investigar uma possível relação entre a utilização de um anti-inflamatório comum e o posterior desenvolvimento da osteoporose. Como a mandíbula é composta por ossos, a doença pode acarretar enormes consequências relativas à odontologia.
A aluna de doutorado Lorraine Faria, com o apoio de seu professor e orientador Victor Arana, está realizando desde o ano passado um trabalho com camundongos para entender como células-tronco provenientes da medula óssea respondem ao contato prolongado com a dexametasona, remédio anti-inflamatório popular ao redor do mundo.
A ideia surgiu a partir da pesquisa de uma ex-aluna da USP, Vivian Bradaschia, que hoje mora no exterior. Durante seu tempo na Universidade, ela iniciou estudos acerca do funcionamento de células clásticas, que são as encarregadas de manter as estruturas de suporte aos tecidos imediatamente próximos aos dentes e de reabsorver e repor tecidos desmineralizados, naturalmente mais enfraquecidos do que o ideal.
Assim, surgiu o conceito inicial da pesquisa de Lorraine, que usa como base a coleta de células clásticas a partir de células-tronco da medula óssea de camundongos. “Alguns trabalhos têm mostrado que, com uso contínuo, a dexametasona causa osteoporose”, esclarece Faria. “A ideia é testar essa droga com as células-tronco responsáveis por reabsorver o osso para ver se realmente o medicamento interfere nelas em algum momento”, explica.
De acordo com Victor Arana, o objetivo é testar a reação das células com medicamentos que inibem ou aumentam a absorção óssea pela qual são responsáveis. Depois disso, é necessário, segundo o cientista, comparar os resultados com os de outras células, influenciadas por outras substâncias.
No estudo de Lorraine, as informações obtidas serão confrontadas com as conclusões tomadas a partir da reação das células com medicamentos usados para tratar a osteoporose, sobretudo o bisfosfonato. Ao confrontar o desenvolvimento das células em meio à dexametasona e ao bisfosfonato, espera-se que seja possível entender melhor o funcionamento das células clásticas e sua relação com a osteoporose.
Entretanto, existe muitos empecilhos para a pesquisa. O maior exemplo, segundo a pesquisadora, é a contaminação. “A cultura celular é linda na teoria, mas é um processo muito longo e com várias etapas. Em cada uma dessas fases, podemos ter algum incidente que contamine as células e atrapalhe todo o resto do trabalho”, comenta. “Por isso, todo dia representa uma nova possibilidade de complicação para nós.”
Apesar dos obstáculos, Victor e Lorraine seguem confiantes no estudo, e esperam conclui-lo em cerca de dois anos. O objetivo final, além de aumentar o entendimento científico sobre células clásticas e a estrutura óssea da mandíbula, é reunir dados que possam informar o público sobre as dosagens do anti-inflamatório que não representam chances significativas de desenvolver osteoporose.
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