Estudo de algas da ilha de Deception busca traçar predominância entre espécies e poluição

Trabalhos visam algas do continente, especialmente interessantes por serem adaptadas a condições extremas

Nove pesquisadores do projeto Macroalgas Antárticas realizam coletas e análises fisiológicas e laboratoriais dos espécimes e suas moléculas. Foto: Eric Guinther/Wikimedia Commons)

Por Pedro Graminha, da Antártica

Nove pesquisadores do projeto Macroalgas Antárticas, coordenado pelo professor do Instituto de Química (IQ-USP) Pio Colepicolo, desembarcaram no continente antártico na manhã do dia 07 de janeiro, após saírem da cidade de Punta Arenas no Chile na madrugada do dia 03, embarcados nos navios da marinha brasileira Almirante Maximiano e Ary Rongel. O grupo –contando com pesquisadores parceiros de outras universidades e instituições, como o Instituto de Botânica (IBt), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) – é um dos 26 integrantes do Programa Antártico Brasileiro (ProAntar), projeto multiministerial financiado pelo CNPq cujo objetivo é estimular pesquisas na região.

O objeto de estudos do grupo são algas do continente, especialmente interessantes por serem adaptadas a condições extremas. Para isso, realizam coletas e análises fisiológicas e laboratoriais dos espécimes e suas moléculas. A partir disso, busca-se descobrir novas substâncias, aplicáveis em outras finalidades. “Pegamos as algas daqui para conhecer seus benefícios e desenvolver estudos de fisiologia – como crescem, se desenvolvem e realizam a fotossíntese, mesmo em um ambiente extremo”, explica Jônatas Martinez, coordenador dos pesquisadores embarcados.

Essas algas, além de submetidas a intensas doses de radiação ultravioleta – especialmente durante o verão em que o sol praticamente não se põe –, também resistem as baixas temperaturas e pouca luminosidade, sem comprometer suas atividades de fotossíntese, pois durante parte do ano o mar se congela, deixando-as em baixo de uma espessa crosta de gelo. Por isso, os estudos dessas algas, submetidas a variantes tão extremas e únicas no mundo, é tão interessante e importante.

Trabalhos em terra

O primeiro ponto de parada do grupo embarcado no navio Almirante Maximiano foi Deception, um vulcão em atividade localizado próximo as ilhas Shetlands do Sul, na Península Antártica, região em que se encontra a Estação brasileira Comandante Ferraz.

Em Deception existem três espécies de algas que se proliferam mais do que as outras: as palmarias (Palmaria decipiens), as pyropias (Pyropia endiviifolia) e adenocistes (Adenocystis utricularis). Um dos objetivos dos pesquisadores do Macroalgas é entender exatamente o porquê desse processo.

“Como Deception é um ambiente vulcânico existem fatores que se modificam: a temperatura é diferente, o ph é outro, alterando todo o ecossistema”, explica Martinez. Fora isso, por ser um ponto muito visado por navios turísticos o ecossistema da região é afetado pela poluição e detritos gerados pela atividade. Martinez também
acredita que esse possa ser um fator regulador. A outra parte dos pesquisadores do grupo, acampada em outra ilha do arquipélago, desenvolverá estudos sobre o impacto ambiental das atividades de turismo.

Uma vez de volta ao navio, a tarefa dos pesquisadores é coletar os espécimes de algas para serem classificados e enviados aos estudos no Brasil.

A partir das algas pyrópias, estuda-se uma substância chamada micosporina, usada para o desenvolvimento de loções antioxidantes – retardando o envelhecimento de pele – e também filtros solares. Imagem: ecycle.com

A partir da alga adenocistes, por exemplo, desenvolvem-se trabalhos visando substâncias com atividades antifúngicas, anti-bacterianas e de colinesterase – usada para tentar inibir a propagação do Alzheimer.

Sobre as pyrópias, estuda-se uma substância chamada micosporina, usada para o desenvolvimento de loções antioxidantes – retardando o envelhecimento de pele – e também filtros solares. Um ponto muito interessante sobre essa espécie é o local em que são encontradas: em cima das rochas, acima do nível d’água, completamente
expostas aos intensos raios solares da região e sobrevivendo apenas com pouca umidade.

Essas espécies são apenas uma pequena parte da distinta flora endêmica do continente. Ao longo da viagem os pesquisadores intencionam realizar novas coletas, em distintos pontos do arquipélago e também em regiões do continente ainda não
exploradas pelo grupo.

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