Imigrantes no futebol evidenciam mudanças sociais na Europa

Presença de estrangeiros nos times evidencia mudanças sociais nos países do continente

Imagem: reprodução

Apesar de ser uma grande paixão nacional, o futebol, assim como outras modalidades esportivas, ainda é visto com certo preconceito pela academia. Entretanto, engana-se quem pensa que ele não pode servir como objeto de estudo para a compreensão de questões sociais.

O pesquisador e jornalista Guilherme Silva Pires de Freitas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, produziu a dissertação de mestrado As seleções de futebol multiculturais da União Europeia, na qual ele apresenta a evolução histórica de seleções da Alemanha, França, Holanda e Portugal ao longo das Copas do Mundo buscando compreender como fatores sociais e imigratórios influenciaram a mudança dos times.

Em sua pesquisa, o autor conseguiu observar que a presença de jogadores imigrantes ou descendentes de imigrantes nas seleções evidencia as mudanças que ocorreram na composição da população dos países europeus a partir da década de 1990. O fenômeno acaba sendo um reflexo da internacionalização que essas nações sofreram com a entrada de povos estrangeiros. “Os imigrantes e descendentes ainda tem pouco espaço na sociedade em geral, mas no esporte podem encontrar maior protagonismo”, aponta.

Em 2010, a seleção alemã que participou da Copa do Mundo contava com jogadores filhos de tunisianos, ganeses e nigerianos. Até mesmo um brasileiro fazia parte da equipe, o atacante Cacau, Claudemir Jerônimo Barreto. O jogador, que também atuou no time na Copa de 2016, foi naturalizado como alemão em 2009. Em 2016, as seleções da Eurocopa contavam com 86 jogadores estrangeiros, dos quais seis eram nascidos no Brasil.

O pesquisador destaca que as autoridades europeias estão começando a notar essa mudança no esporte e utilizá-las a seu favor. “Em alguns casos, os próprios governos utilizam a modalidade como instrumento político para conseguir seus objetivos”, comenta. “Isso mostra que o futebol caminha lado a lado com a sociedade e é um ótimo instrumento para pesquisa, embora ainda haja um pouco de preconceito com o esporte”, aponta. Guilherme diz que apenas encontrou estudos do gênero na França e na Inglaterra.

Para produzir a dissertação, o pesquisador fez um levantamento bibliográfico através de material acadêmico, jornalístico e estatístico. “Entre os autores acadêmicos, a maioria foi das áreas de sociologia, antropologia e história”, comenta. Para os dados estatísticos ele utilizou dados oficiais dos governos dos países analisados e de órgãos internacionais.

“Hoje o futebol (e o mundo geral em si) está cada vez mais globalizado e internacionalizado e creio ser importante estudá-lo como algo que faz parte do mundo e da sociedade e não como apenas uma modalidade esportiva. É possível compreender povos e a sociedade como um todo através do futebol.”

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