Mobilidade inclusiva envolve condições dignas de deslocamento

Pesquisador apresenta conceito em livro recém-lançado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP

Foto: Paulo Pinto/Reprodução (Fotos Públicas)

O livro “Transporte, Mobilidade e Desenvolvimento Urbano”, lançado recentemente, traz o significado de mobilidade inclusiva. O conceito, que dá nome a capítulo escrito por Thiago Guimarães Rodrigues, inclui locomoção para diferentes objetivos e considera a imobilidade para determinar o deslocamento urbano.

Em seminário organizado pelo NEREUS (Grupo de Economia Regional e Urbana da FEA), o jornalista e economista pela USP explicou que a definição filosófica se fundamenta em direito à cidade. Quer dizer, o direito que toda a sociedade possui de se locomover no espaço urbano. Um estudo de 2003 agregou ao conceito a capacidade de acessar equipamentos básicos – trabalho, educação, saúde e lazer-, o que está ligado a melhores condições de vida.

Entretanto, Guimarães contou que, pouco tempo atrás, em conversa com uma funcionária do Metrô de São Paulo, descobriu a permanência, há muitos anos, do antigo molde do sistema. O objetivo do metrô ainda é atender altas demandas, independentemente da classe social ou do nível de inclusão, principalmente para a finalidade de trabalho.

Na atual etapa de seu doutorado pela Universidade de Leeds, Inglaterra, o pesquisador realiza entrevistas com grupos na zona leste de São Paulo. Na investigação, outras necessidades são apresentadas além do deslocamento até o trabalho. O Parque do Ibirapuera, por exemplo, é o local mais citado dentre os que as pessoas desejam conhecer, mas desistem devido a dificuldade de chegar via transporte público. Isso demonstra a insuficiência de um sistema de transporte baseado apenas no deslocamento ao emprego.

Guimarães resumiu que “mobilidade inclusiva é aquela em que todo mundo pode se deslocar em condições dignas, de forma a realizar as atividades elementares que necessitam ser desenvolvidas”. E destacou que está ligada à possibilidade de todos participarem da cidade.

“Muita gente em cidades de países em desenvolvimento acabam ficando em casa no dia a dia. Elas não se movem ou fazem deslocamentos muito curtos que as pesquisas acabam não captando”, afirmou Guimarães. “Então, a questão é: por que as pessoas ficam paradas?” Alguns outros obstáculos devem ser consideradas ao analisar a imobilidade, como o desembolso, o tempo dedicado e o esforço físico. Por isso, idosos e donas de casa estão entre os grupos mais imóveis.

De acordo com o pesquisador, o diferencial da abordagem do livro “Transporte, Mobilidade e Desenvolvimento Urbano” está ao relacionar a imobilidade à baixa acessibilidade e ao utilizar conceitos que complementam o de mobilidade inclusiva. As mobilidades sacrificadas e insatisfeitas são exemplos. A primeira significa uma viagem necessária ou desejada que não é realizada e a segunda acontece quando as pessoas vão a um lugar, mas não encontram o que precisam.

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