Nova técnica desenvolvida na USP pretende otimizar diagnóstico de leptospirose

Pesquisadora da veterinária buscou meios de tornar a detecção da doença mais rápida

Leptospira, a bactéria que causa a doença. Imagem: Reprodução

Só em 2017, a leptospirose já foi o motivo da morte de, pelo menos, 13 pessoas em Pernambuco, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde. Em outros estados do Brasil, os índices também continuam altos. A doença é de simples tratamento, o problema reside no diagnóstico, afirma a doutoranda Larissa do Rêgo Barros Matos. “Ainda mais em um país como o nosso, que tem tanta doença tropical, com os mesmos sintomas, a leptospirose se confunde muito no diagnóstico”, explica. Além disso, após o exame ser feito, o resultado ainda demora de 14 a 20 dias para confirmar a doença.

A taxa da mortalidade da doença aliada a uma difícil identificação foram razões para a pesquisadora começar a estudar a doença em seu mestrado e continuar os estudos na tese de doutorado, desta vez, identificando as proteínas produzidas pela bactéria Leptospira e caracterizando-as depois. Atualmente, o sistema utilizado atua dentro da bactéria. Dessa forma, quando a proteína é liberada, sua estrutura muda, atrapalhando a análise. “Para obter as proteínas que já estavam envolvidas no processo de estabelecimento da doença,a gente tentou utilizar um novo sistema de expressão que não alterasse a estrutura e, consequentemente, a função dessas proteínas”, explicou Larissa.

A caracterização das proteínas dá a base para descobrir a patogênese da doença, da qual pouco se sabe atualmente, e que seria fundamental para seu diagnóstico. “O que a gente sabe em relação a como se estabelece a infecção, como a bactéria consegue entrar no hospedeiro, quais são os mecanismos, ainda é muito pouco, mas a gente sabe que as bactérias secretam essas proteínas quando entram no hospedeiro para conseguirem colonizar, então elas devem estar realmente envolvidas no processo de estabelecimento da doença”, explica a doutoranda.

O sistema de expressão teve sucesso, apesar de não ter sido o esperado inicialmente. “A gente conseguiu obter as quatro proteínas analisadas por meio desse novo sistema de expressão, mas três delas tiveram um baixo rendimento”, explica. O trabalho durou quatro anos, mas Larissa confessa que ainda precisaria de mais tempo para entender e tentar melhorar os rendimentos. “Enzima perde sua função biológica característica de forma muito fácil, qualquer coisa faz ela degradar, então sua expressão acaba sendo mais complicada mesmo”, conta.

A pouca quantidade não impediu, entretanto, que a pesquisadora conseguisse caracterizar bem uma proteína que tinha sido pouco estudada antes, descobrindo que ela tem uma atividade lipásica. “Já que ela tem uma atividade lipásica, então provavelmente está realmente envolvida no processo de degradação de membrana de lipídios, e, consequentemente, envolvida no processo de patogênese da bactéria na hora de colonizar o hospedeiro”, explica.

Larissa pretende dar continuidade aos estudos com a leptospirose no pós-doutorado, entretanto de uma forma menos geral. “No doutorado, a gente fez uma coisa mais ampla, de estudo mais patogênico mesmo, que pode ser utilizado em humanos e em animais infectados, mas agora vamos focar mais na leptospirose humana”, conta. “Em termos simples, seria fazer quase a mesma coisa que eu fiz no meu doutorado, mas utilizando amostras de pacientes humanos, pra conseguir ver a caracterização mais aplicada.”

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