Realizar uma obra sem um projeto bem definido traz consequências para uma empresa. Esta configuração associa dois temas importantes para os estudos de arquitetura: gestão arquitetônica e imagem do arquiteto. Saber conciliar os projetos e ampliar a concepção icônica de arquitetura autoral, a fim de incorporar as novas práticas da atualidade motivaram o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Gil Garcia Barros, a pesquisar a relação entre a gestão do negócio, os projetos individuais e a atuação do profissional.
Por gestão arquitetônica entende-se a gestão estratégica de uma empresa de arquitetura, que assegura a integração efetiva entre a gestão dos aspectos de negócio do escritório com seus projetos individuais, visando projetar e entregar o melhor valor a todas as partes interessadas. Sob outro aspecto, a imagem do arquiteto analisa as diversas imagens que existem sobre a profissão. “A pesquisa analisa a imagem dentro de um espectro que inclui desde o articulador de belas formas e defensor do bom gosto, até o coordenador de procedimentos não lineares para o enfrentamento de problemas complexos”, explica Barros. O estudo procura entender quais as vantagens e desvantagens de cada uma destas imagens e quais os impactos na prática profissional.
Toda a pesquisa é permeada pela dicotomia entre os conceitos apresentados acima. Para o docente da FAU, um dos grandes problemas diz respeito à pouca qualificação de alguns profissionais. É possível ter uma empresa e conduzir a gestão sem um planejamento, mas a ineficiência dificulta sua operação. Isso faz com que se percam muitas oportunidades”, conta. Por conta disso, a empresa pode ter que encerrar suas atividades, afetando seu modelo de negócio, mesmo que o projeto seja potencialmente viável. ”Isto ocorre pois os profissionais acabam tendo que fazer a gestão de sua prática, seja individual ou coletiva, mas tem pouca formação para tal, o que resulta em uma gestão pouco eficiente”, complementa. Por outro lado, sobre a imagem do arquiteto, a pesquisa constata a existência da imagem clássica do arquiteto como o protagonista de um pequeno estúdio, responsável por elaborar obras autorais de grande impacto visual e cultural.
Para o pesquisador, esta é de fato um papel que a arquitetura tem na sociedade, uma vez que cabe a esta área do conhecimento interpretar, questionar e propor novas maneiras de se configurar o espaço. Porém, para Gil Barros, esta é uma visão limitada e superficial. “Existem muitas outras formas de atuação, como os arquitetos especialistas, que complementam as práticas dos estúdios autorais; os profissionais que trabalham com pesquisas e levantamentos; e até mesmo profissionais que trabalham com nichos de mercado nos quais não cabe uma arquitetura autoral típica”, defende.
Por conta desta limitação no conceito, por vezes a profissão sofre com consequências negativas. A primeira delas, segundo o docente, é o preconceito com as formas de atuação distintas da convencional. “Os arquitetos não percebem que suas habilidades seriam úteis nestas outras atuações, perdendo relevância social e mesmo mercado de trabalho”, explica. A segunda consequência é a consolidação da imagem do arquiteto como item de luxo, que é utilizado apenas excepcionalmente, não sendo integrado às necessidades de melhorias do espaço construído. Especificamente sobre a gestão dos projetos, Barros destaca alguns modelos de sucesso, como os projetos de mercado imobiliário, as licitações públicas, as intervenções de urbanização de favelas e os projetos de restauro.
Em última análise, a pesquisa analisa de que forma pode contribuir para uma melhor compreensão da arquitetura e da figura do profissional. “O objetivo a longo prazo é trazer uma contribuição geral para a contribuição da arquitetura para a sociedade. Isto deve ocorrer tanto a partir de uma melhor gestão das empresas de projeto quanto de uma imagem mais ligada às demandas sociais reais que existem”.
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