Projeto latino-americano analisa a opinião pública da região sobre temas internacionais

Parceria acadêmica conta com equipes de pesquisa de vários países da América Latina: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Guatemala, México e Peru. [Créditos: Giovanna Querido]

Há 15 anos, o México coordena o projeto Las Américas y el Mundo por meio do Centro de Investigación y Docencia Económicas (Cide), onde os dados são disponibilizados posteriormente. Além disso, tem o apoio de mais sete países da América Latina, inclusive o Brasil, que é representado pelo Instituto de Relações Internacionais da USP. Em entrevista à Agência Universitária de Notícias, a coordenadora da pós-graduação do IRI, Janina Onuki,  explica um pouco mais sobre a importância dessa pesquisa internacional.

O objetivo do projeto, conforme destaca Janina, é compreender as percepções e atitudes do público sobre temas internacionais que ganharam relevância maior neste século e captar a reação da sociedade às mudanças internacionais e seus impactos domésticos, de modo a legitimar a realocação de recursos e o posicionamento do governo em relação à política externa. “Toda política externa também é uma política pública”, afirma a pesquisadora.

A cada 4 anos é realizado um levantamento com aproximadamente 2 mil pessoas em todas as capitais de cada um dos países participantes. Os pesquisadores realizam-na presencialmente, normalmente em endereços domiciliares e com maiores de 18 anos.  A pesquisa conta com duas partes: na primeira, perguntas sobre a percepção do público em relação ao lugar do seu país no cenário internacional e sobre sua agenda de política externa; na segunda, análise da opinião do público brasileiro da relevância de um conjunto de temas internacionais que ganharam destaque maior neste século.

Analisando os últimos dados, Janina percebe uma mudança na percepção do público brasileiro ao longo do tempo com a mudança dos governos. Nos mandatos de Lula e Dilma havia uma maior visibilidade da atuação do Brasil no cenário internacional, o que reflete na opinião das pessoas, já que esses assuntos passam a ser mais pautados pela mídia. Para a pesquisadora, hoje a política externa está muito dispersa, o que provavelmente vai implicar em mudança na próxima pesquisa que será realizada no primeiro semestre de 2018.

Ainda segundo Janina, a mídia contribui para uma banalização da percepção das pessoas em relação a assuntos internacionais, de modo que os resultados obtidos da opinião pública são moldados pelo que sai na mídia tradicional hegemônica. Como exemplo, cita uma maior importância dada pelo público a temáticas ambientais de sustentabilidade, porque quando a pesquisa estava sendo realizada o assunto em pauta era a convenção climática.

Os dados disponíveis online no portal do Cide também mostram uma diferença entre os países que compõem o projeto.  O México possui uma política externa mais próxima  dos Estados Unidos, enquanto o Brasil possui uma atuação mais individual e nacionalista. Já a Argentina busca uma maior integração com a América Latina e, principalmente, com os países banhados pelo oceano Pacífico.

Com o cruzamento dos dados brasileiros, os pesquisadores perceberam que há uma expectativa quase unânime de que o Brasil  deve priorizar a via do comércio, da diplomacia e da influência cultural como as principais ferramentas de sua influência global.

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