Grande parte dos criadouros de Aedes aegypti em São Paulo estão dentro de casa, aponta pesquisa

Vasos, pratos e pingadeiras são alguns dos recipientes com maior ocorrência de criadouro do mosquito.

Microscopia de um ovo de Aedes. Imagem: Ana Paula Miranda Mundim-Pombo

Em tempos de pânico quanto a zika e chikungunya, pode vir como surpresa que o vetor dessas doenças, além da já tradicional dengue, divide lar com os cidadãos do município de São Paulo. Mas é isso que aponta pesquisa recente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ-USP). Entre 2013 e 2014, Ana Paula Miranda Mundim-Pombo acompanhou, na elaboração de seu doutorado, a vigilância entomológica da capital paulista, e registrou que os recipientes com maior ocorrência de criadouros do mosquito Aedes aegypti estão dentro de casa: pratos, vasos, pingadeiras.

Para a pesquisadora, esse conhecimento é essencial à formulação de políticas públicas de conscientização: “Acho que os resultados das nossas pesquisas deveriam chegar de maneira clara para toda a população, independentemente de seu nível de escolaridade. Enquanto não se tiver a clareza disso, o motivo pelo qual existem criadouros e, consequentemente, casos de dengue, serão todos, menos uma responsabilidade minha enquanto munícipe”.

Sua análise acompanhou vários indicadores da vigilância em cada distrito administrativo (menor unidade de divisão da cidade) e percebeu, ainda, uma dificuldade em se estabelecerem padrões quanto à distribuição geográfica dos criadouros no município ao longo dos anos. Nem mesmo em regiões periféricas, de favelas e cortiços, onde se esperaria encontrar índices elevados devido às condições sanitárias mais precárias e à grande densidade demográfica, pôde-se registrar um padrão de infestação ou uma relação constante e direta. Isso dificulta o combate ao vetor, afirma Mundim-Pombo, e a leva a defender uma ação mais uniforme em todas as regiões: “Se há maior segurança quanto aos menores níveis de infestação em uma determinada área do município, isso não pode fazer com essa área deixe de receber atenção tornando-a, num momento subsequente, mais vulnerável”.

Quanto à qualidade da vigilância realizada pelo município, Mundim-Pombo traz elogios e ressalvas. Ela acredita que a cooperação de diversos setores, desde as Unidades Básicas de Saúde às Forças Armadas, é um grande ponto positivo nesse trabalho, o qual se intensificou ainda mais com o surgimento de zika e chikungunya como doenças importantes disseminadas pelo mosquito. No entanto, ainda há uma deficiência de recursos humanos. “Muitas vezes as ações de vigilância epidemiológica acontecem de maneira um pouco mais lenta, não em função de falta de vontade, mas pela carência de profissionais decorrente do cenário político-econômico atual”.

Ovo é resistente

Em outra parte da elaboração de seu doutorado, a pesquisadora estudou o desenvolvimento embrionário e a morfologia do ovo do Aedes aegypti. A investigação do embrião atraiu Mundim-Pombo, por considerar que existe uma lacuna no conhecimento dessa fase do mosquito, em comparação às fases de larva e adulto. Ovos coletados em São Paulo e outros enviados do Maranhão foram mantidos em temperatura controlada e passaram por uma série de metodologias de observação: a microscopia de varredura, microscopia de transmissão, microscopia confocal, avaliação histológica e imunohistoquímica. Nesse processo, a todo momento se buscaram pontos de fragilidade no ovo e no seu revestimento externo, denominado cório e conhecida por estudiosos como uma “grande fortaleza”, tanto por sua estrutura peculiar quanto por sua resistência.

Contudo, apesar do emprego de diversas metodologias e pesquisa extensa, registraram-se apenas fatores de resistência desse embrião. Percebeu-se que, por enquanto, o foco maior dado à larva e à pupa no combate ao vetor se justifica: “Ainda não daria para recomendar outras medidas que se apliquem ao ovo, a não ser aquelas quanto a evitar que haja criadouros”.

 

 

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*