Por Mariana Gonçalves – mariana.vick.goncalves@gmail.com
O Urbanismo Ecológico, conceito recente na história do pensamento urbanístico, é capaz de criar equilíbrio entre os recursos naturais e as ocupações urbanas, e sua implantação é possível numa cidade como São Paulo. É o que diz a tese Urbanismo ecológico, do princípio à ação: o caso de Itaquera, São Paulo, SP, defendida em 2014 pela arquiteta e doutora Patricia Akinaga, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU).
Para chegar à conclusão, Akinaga analisou o bairro de Itaquera, na zona leste da capital paulista, afetado no mesmo ano pela construção da Arena Corinthians. Os estádios de futebol são grandes catalisadores urbanos, na medida em que levam à profunda reestruturação dos espaços em seu entorno — representando, por isso, oportunidades de transformação a partir de um novo modelo de ocupação, pautado em princípios ecológicos.
Segundo a arquiteta, o Urbanismo Ecológico, nascido no fim do século 20, ficou conhecido por propor uma mudança de paradigma para os arquitetos, pela qual o desenho urbano deveria ser pensado a partir das potencialidades e limitações dos recursos naturais. Ao contrário de movimentos anteriores, que viam no edifício e na arquitetura os elementos estruturadores das cidades, o Urbanismo Ecológico busca a infraestrutura na própria paisagem. As áreas verdes, por exemplo, não existem apenas pelo embelezamento e melhoria da qualidade visual de um lugar. “Elas se transformam em verdadeiros artefatos de engenharia”, diz Akinaga, por seu potencial de amortecimento, retenção e tratamento das águas pluviais. “A forma da cidade passa a ser definida pelos elementos naturais intrínsecos em seu tecido urbano.”
Caminhos
Além do estudo de caso em Itaquera, Akinaga teve base em experiências internacionais e em publicações acadêmicas, sobretudo de sua orientadora, Maria Assunção Ribeiro Franco. A professora, envolvida com a “causa” do planejamento sustentável, pesquisa a importância de fatores naturais como agentes para o desenho da cidade.
A aplicação dessas noções pode ser aproveitada na topografia, nos cursos d’água, na fauna e na flora, aponta Akinaga. Com o Urbanismo Ecológico, surgem novas tipologias de rua, definidas a partir dos rios e da arborização viária, estabelecendo conexões entre importantes pontos na malha verde e urbana. A cidade se utiliza da paisagem de maneira estrutural, e não mais acessória.
A arquiteta dá o exemplo dos jardins comunitários dentro dos bairros, que promovem a educação ambiental, a produção local de alimentos, o fomento à cidadania e ao processo participativo. Nesse sentido, a tese também assinala a importância da articulação entre poder público, iniciativa privada e comunidade, a fim de consolidar pactos por transformações efetivas.
Vale ressaltar que, mais do que proporcionar melhorias do ponto de vista ambiental, o Urbanismo Ecológico é uma alternativa em favor da qualidade de vida das pessoas nas cidades, que se beneficia do contato saudável com a paisagem urbana. Diferente do conceito de “natureza”, a paisagem, aqui, abrange “sistemas humanos e naturais, aspectos sociais, econômicos e ecológicos na sua essência”, afirma Akinaga.
Arena Corinthians
Implantada para a ocorrência da Copa do Mundo, a Arena Corinthians, enquanto catalisadora para a transformação social e física em Itaquera, foi alvo de propostas de Akinaga. “A pesquisa apresenta um plano de Urbanismo Ecológico para o entorno da região, a partir de suas potencialidades locais, suas áreas verdes, sua hidrografia e sua nova dinâmica decorrente de novos investimentos públicos e privados”, diz.
Para ela, é preciso que São Paulo reconfigure o traçado viário urbano, juntamente aos cursos d’água e às áreas verdes, e promova melhorias no transporte público, para ciclistas e para pedestres. Também são necessárias a diversificação do uso do solo, a criação de bairros ecológicos e o reaproveitamento de áreas subutilizadas para implantação de infraestrutura verde. A cidade, marcada por fortes impactos decorrentes de intervenções humanas, apresenta inúmeros problemas mal resolvidos.
O Urbanismo Ecológico deve estar previsto na legislação urbana e em Planos Diretores Estratégicos, e arquitetos paisagistas e urbanistas — capazes de articular anseios de diversos setores da sociedade — são personagens-chave para a execução de suas medidas.
“Projetar cidades com isso em mente possibilita um planejamento melhor contra intempéries e enchentes, por exemplo”, diz Akinaga, reforçando a urgência de ações por melhorias na qualidade ambiental paulistana. “Os efeitos das mudanças do clima não podem ser mais ignorados.”
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