Pesquisa desvela o lulismo no interior paulista

Feita entre os moradores da periferia de Taubaté, o trabalho mostra que, apesar da preferência eleitoral gozada pelos tucanos, o sentimento é presente na região

Estudo focou moradores dos conjuntos habitacionais populares CECAP, da periferia de Taubaté. Foto: wikipedia.org

Por Marcos Hermanson Pomar – marcoshpomar@gmail

Há dois anos, nas últimas eleições presidenciais, 35% dos moradores dos conjuntos habitacionais populares CECAP, da periferia de Taubaté, votaram em Aécio Neves (PSDB). A bem da verdade, já há 20 anos que a população de lá elege prefeitos tucanos e governadores do mesmo partido. No pleito de 2016, os moradores decidiram que Ortiz Junior, ex-prefeito, cassado há alguns meses, deveria passar os próximos quatro anos no cargo.

A pesquisadora Maria Letícia Juliano, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que dedicou sua dissertação de mestrado ao exame das posições políticas destes homens e mulheres, diz que, ainda que as escolhas eleitorais da população dos conjuntos habitacionais tenham em grande parte pendido ao PSDB nas últimas duas décadas, é possível encontrar traços claros do lulismo ali.

“É possível dizer que o lulismo está presente na Cecap, apesar de não ter a mesma força que em outras localidades do país. O que percebemos é uma espécie de lulismo brando ou suave em que as pessoas têm certa afinidade com os governos do PT, mas não ao ponto de formar uma identificação forte”, ela explica. “Quando analisamos a votação nas urnas próximas a esta periferia percebemos que o PSDB sempre consegue altas taxas, mas quando comparado aos locais mais ao centro da cidade verificamos que a porcentagem não é tão alta quanto as registradas ali. Esta diminuição nos votos do PSDB na Cecap se deve de acordo com a interpretação que fizemos ao lulismo”.

Quando questionada a respeito da aderência do discurso anti-petista, propriamente inflamado e aparente na crise política e econômica, a Maria Letícia lembra que as regiões periféricas tem configurações diferentes daquelas encontradas nos centros urbanos, cujas populações tem mais destaque na mídia hegemônica. “As entrevistas e o trabalho de campo demonstraram que havia na realidade certa afinidade com as ações do governo do PT. A maioria dos entrevistados, apesar das ressalvas, apoia as medidas de transferência de renda como o Bolsa Família, possui uma visão positiva de Lula e da sua história de vida e reconhece a importância do governo para a melhoria de vida de milhões de brasileiros”.

Para a pesquisadora, os cidadãos deste pequeno reduto interiorano costumam pesar, de forma bem pragmática, os pontos positivos e negativos nos candidatos. “A maioria dos entrevistados, apesar das ressalvas, apoia as medidas de transferência de renda como o Bolsa Família, possui uma visão positiva de Lula e da sua história de vida e reconhece a importância do governo para a melhoria de vida de milhões de brasileiros”, diz ela. “Já quem optou por votar na oposição tomou esta atitude por dois motivos, pois de alguma forma teve a situação econômica prejudicada e também por conta dos casos de corrupção. Metade dos entrevistados que votaram contra Dilma ficou desempregada em algum momento”.

No centro do conjunto de fatores mais importantes para os eleitores figura o cenário econômico e as mudanças nas condições de vida que se projetam na vida dos moradores do CECAP. A pesquisa mostra que, na balança, os cidadãos pesaram o melhor poder de compra conquistado principalmente durante o governo Lula com o declínio econômico e os escândalos de corrupção dos anos Dilma. Para completar a equação é preciso entender a combinação do sentimento de recompensa de esforços pessoais com o entendimento dos desdobramentos práticos das políticas federais.

“A visão meritocrática é bastante forte entre os moradores da Cecap. Eles acreditam que as conquistas se devem principalmente aos esforços próprios”, Maria Letícia explica”. Contudo, eles não descartam a importância que o governo tem neste processo de ascensão. É preciso ter motivação e vontade de crescer, mas também é preciso que o governo propicie condições favoráveis para que isso ocorra. “O que adianta querer trabalhar se não há vagas disponíveis no mercado? Neste sentido, eles atribuem as melhorias por um lado ao seu próprio esforço e por outro ao governo por ter implementado políticas que fossem positivas aos mais pobres”.

 

 

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