Maior tempo de cirurgia é fator de risco para infecção, aponta estudo

Pesquisa da Faculdade de Odontologia avalia riscos na extração dos terceiros molares

Pacientes apresentaram infecções quando tempo cirúrgico foi maior que 50 minutos. Foto: USP Imagens

Por Regina Santana – regina.depsan@hotmail.com

A extração dos terceiros molares, também conhecidos como dentes do siso (em latim, juízo), é a especialidade mais comum no ramo da cirurgia bucomaxilofacial. Sendo os últimos dentes a nascer – já na fase adulta, entre os 16 e 21 anos – podem causar problemas quando o espaço na boca é insuficiente ou, entre outras razões, não se desenvolvem adequadamente e ficam retidos na gengiva, levando a problemas estruturais e de saúde em geral. Dessa forma, sua extração é geralmente recomendada, a não ser que os dentes possam se desenvolver normalmente e ser higienizados no fundo da boca.

A procura pela extração desses dentes nas clínicas da Faculdade de Odontologia é bem grande. Esses casos são geralmente encaminhados para a Liga de Cirurgia Oral e Maxilofacial (Licomf), outro braço do curso de graduação no qual os próprios estudantes realizam o atendimento, supervisionados por professores e pós-graduandos.

É normal que cirurgiões dentistas com pouca experiência ou em fase de aprendizado demorem mais para extrair os dentes do siso e com maiores chances de traumas, o que pode levar a uma recuperação um pouco mais demorada e, muitas vezes, mais dolorida. No entanto, um estudo recentemente publicado demonstra que cirurgias de duração mais extensa podem estar associadas à maior incidência de infecções.

Isso não significa que um cirurgião recém-formado seja menos qualificado para realizar tal procedimento. Na verdade, o que o estudo procura abordar é que a experiência do cirurgião, assim como o grau de complexidade da operação, posição do dente e até abertura da boca e campo de visão operatório, entre outros, são fatores que podem implicar num tempo cirúrgico maior, que por sua vez está relacionado a maiores chances de infecção pós-operatória.

Para demonstrar sua tese, Henrique Camargo Bauer , doutorando do programa de Ciências Odontológicas (FOUSP) e cirurgião bucomaxilofacial do Hospital Universitário da USP, analisou 197 pacientes submetidos à extração dos terceiros molares, baseado nos mesmo protocolos cirúrgicos, e constatou que, ao todo, 15 pacientes apresentaram infecções depois de o tempo cirúrgico ser maior que 50 minutos.

Maiores chances de infecção implicam em mais prescrições de antibióticos, o que consequentemente ocasiona a seleção de microrganismos resistentes. “O objetivo deste estudo é justamente rever os protocolos cirúrgicos e descobrir o que pode ser melhorado. Nesse caso, entender que um tempo maior de cirurgia pode implicar na infecção ajuda o profissional a identificar os momentos em que o uso de antibióticos é adequado ou não”, explica o cirurgião.

Formação Profissional

Segundo os doutores Fábio Duarte e Sérgio Sobral, cirurgiões responsáveis pela Licomf, os alunos têm a oportunidade de aprender na prática e desenvolver conhecimentos que somente o dia a dia da profissão pode proporcionar. Somente os estudantes do último e penúltimo anos de curso podem realizar as operações, sempre supervisionados pelos professores auxiliares, seguindo à risca os protocolos de cirurgia estabelecidos pela Faculdade de Odontologia.

“É natural que um cirurgião menos experiente demore mais para realizar o procedimento. No entanto, a incidência de infecção pós-cirúrgica é baixa aqui nas Clínicas, acredito que por conta dos padrões de assepsia e a prescrição prévia do medicamento antes da extração”, afirma o Fábio Duarte.

Ainda que a incidência seja baixa, ele concorda, no entanto, que é preciso rever as técnicas de extração de tempos em tempos, até para que os alunos aprendam desde já os métodos mais precisos e que ofereçam menos riscos aos pacientes.

A alveolite e a infecção do sítio cirúrgico, os quadros clínicos mais comuns na extração dos terceiros molares, são condições dolorosas e de baixa gravidade quando tratadas com antecedência. No entanto, no caso da infecção do sítio cirúrgico, há a potencialidade de levar ao óbito quando a virulência do microorganismo é alta ou a capacidade de defesa do paciente é debilitada, principalmente aqueles imunodepressivos (soropositivos, diabéticos, entre outros grupos de risco). Daí a necessidade de evitar a multirresistência aos antibióticos, causada pelo uso massivo e desnecessário desse tipo medicamento. Dessa forma, tanto o pesquisador quanto os cirurgiões-dentistas concordam em administrar a dose profilática (pré-operatória) e apenas estender o tratamento em caso de necessidade.

 

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