Por Mateus de Lucena Feitosa – mateuslfeitosa@gmail.com
Com o objetivo de entender as relações de jovens estudantes e profissionais de escolas públicas com manifestações artísticas em instituições que atuam na promoção do direito à arte e a cultura e sua influência na formação destes, a pesquisadora Cérise Alvarenga, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, visitou escolas públicas da região metropolitana de Belo Horizonte (MG) para escrever sua tese de doutorado: Jovens, profissionais de ensino e instituições artísticas e culturais: relação no espaço social.
Influenciada por suas experiências prévias em associações e entidades que trabalham com programas e projetos sociais que buscavam valorizar a prática de visitar instituições artística, a pesquisadora se viu interessada na forma como a arte poderia influenciar na formação de jovens. “No período em que atuei nessas instituições, fui observando que as ideias de democratizar a arte e cultura e de que arte transforma vidas tornaram-se enunciados habituais no discurso de muitos profissionais’’, conta.
Observando os alunos em seus trabalhos com ONG’s ao visitar museus, teatros e galerias de arte, Alvarenga percebeu que cada experiência era percebida de diferentes formas pelos jovens. Nem sempre receptivos no início, os alunos demonstravam não ter costume de frequentar lugares como esses. “Ouvia, por exemplo, repetidas vezes, os jovens partilhando que nunca haviam entrado em determinados ‘espaços culturais”, afirmou. O estudo aponta ainda que muitas vezes, por se apresentarem muito sofisticados, os alunos acreditavam que esses espaços não eram abertos ao público e que ali existiam atividades gratuitas.
Toda investigação da tese foi feita por meio de pesquisas bibliográfica, documental e de campo. O intuito da pesquisadora foi entender, situar e problematizar a construção social e histórica da categoria juventude. Conversas em grupo com jovens foram priorizadas desde o início devido à percepção de que, com seus pares, eles poderiam expressar suas ideias com mais facilidade diante da presença de Alvarenga, tornando possível compreender os efeitos e o aprendizado dos alunos ao visitarem os “espaços culturais”.
De acordo com a pesquisadora, foi possível concluir com seu trabalho que a relação dos alunos com as manifestações artísticas permitiu que estes jovens desenvolvessem um questionamento maior em relação suas vidas, seus professores e o papel da escola em suas vidas, além de perceberem o quanto se relacionam de forma restrita com a cidade. Para Alvarenga, ao comentar sobre a fala de um professor, frequentar “espaços culturais” pode proporcionar um modelo de educação mais interessante. “Visitar tais espaços é proporcionar a ‘saída do reduto’, rascunhando um modelo de educação no qual o aprender ocorre em contextos diversos”, comenta.
Alvarenga ainda discute que, apesar das conquistas sociais que transcorreram no Brasil nas áreas educacionais, sociais e culturais, é preciso ter em mente que, no contexto atual do país, ainda há muitas desigualdades de oportunidades. ”É preciso considerar que as cidades, suas instituições e a forma com que cada indivíduo consegue acessar seus diferentes espaços sociais apresentam múltiplas formas de apropriação”, analisa.
Dentro deste cenário, em que cada vez mais se discute a proposta de visitas a instituições artísticas e culturais, o estudo aponta a necessidade de se trilhar um caminho metodológico que possibilite ao aluno se posicionar e se expressar ao entrar em contato com esses espaços. Assim, permiti-se romper com “redutos” escolares, aperfeiçoando o processo educativo que possibilitará “o movimentar afetos, opiniões, subjetividades e sentidos, inaugurando outras relações em diferentes espaços sociais”.
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