USP não é bem representada nos principais rankings internacionais, aponta pesquisa

Dissertação do Instituto de Relações Internacionais mostra que rankings ignoram a diversidade das universidades e sugere uma alternativa

Rankings não são eficazes em avaliar as universidades que estão fora do sistema Anglo-Americano. Foto: Marcos Santos/USP Imagens.

Por Carolina Marins – carolinamarinsd@gmail.com

Os rankings universitários são uma forma de avaliar e comparar instituições de ensino do mundo todo e, no final, são apresentadas listas hierarquizadas das 500 melhores instituições. Esses rankings são importantes para que futuros estudantes universitários possam decidir qual instituição melhor atende às suas exigências e também para as próprias universidades medirem seu desempenho. Mas será que eles são a melhor forma de avaliar o ensino superior dos países, em especial, o da USP?

Uma dissertação de mestrado defendida no Instituto de Relações Internacionais da USP pelo pesquisador Justin Hugo Axel-Berg, na verdade mostra que os rankings não são eficazes em avaliar as universidades que estão fora do sistema Anglo-Americano. O objetivo da pesquisa, além de estudar se os rankings avaliavam bem as universidades, era também verificar se a USP era bem representada por eles. “Os rankings são muito fáceis de se entender. Todo ano pode publicar no Estadão, na Folha e todo mundo pode comentar, todo mundo pode ter uma noção se a USP está bem ou não. Mas, na verdade, eles não explicam quase nada”, afirma Axel-Berg.

O pesquisador estudou três dos principais rankings mundiais: O Shanghai Jiao Tong ARWU Ranking; o TimesHigherEducatione o QuacquarelliSymonds (QS) Ranking. Cada um dos três possui métodos de avaliação bastante específicos.

O Shanghai Jiao Tong ARWU Ranking tem os seguintes critérios de avaliação: a qualidade do ensino, que enumera os Prêmios Nobel e Medalhas Fields que os alunos acumulam; a qualidade dos docentes, que também avalia essas premiações, juntamente com o número de pesquisadores mais citados; e a produção científica, que inclui o número de artigos publicados na Naturee na Science e indexados na Social SciencesCitation Index (SSCI). Em 2015, a USP estava entre as 150 primeiras classificadas nessa lista.

O TimesHigherEducationutiliza como critério o ensino, que considera o ambiente de aprendizado; a pesquisa; a influência das pesquisas, baseado no número de citações; internacionalização, considerando o número de funcionários e estudantes estrangeiros, além das pesquisas em outras línguas; e impacto na indústria, que considera a transferência de conhecimento da universidade para as empresas. No ranking de 2015-2016, a USP ficou entre as 250 primeiras classificadas.

Finalmente, o QuacquarelliSymonds Ranking analisa a reputação acadêmica, medida com base na avaliação de acadêmicos convidados para apontar as universidades onde eles consideram que suas áreas de atuação são melhor exploradas; reputação do mercado, em que empregadores avaliam as universidades com os melhores graduados; relação entre corpo docente e discente, onde se avalia a quantidade de professores em detrimento da quantidade de alunos; citações de pesquisas; e a internacionalização. Em 2016, a USP ficou em 120º colocação nesse ranking.

Axel-berg chega a conclusão de que esses rankings internacionais não representam a USP da melhor maneira. O grande problema de um ranking é o fato dele uniformizar as universidades, excluindo suas diversidades, mostra a pesquisa. “Um ranking sempre reduz a uma dimensão só. Você tem a mesma métrica para um pequeno, privado e intensivo ensino de ciências exatas e para um extensivo, multicampi que é a USP, que tem extensão, uma diversidade de meta e de impacto. Por isso eles não são muito válidos como comparação”, afirma Axel-berg.

Estabelecimento de métricas

Ao se criar um ranking, é necessário estabelecer métricas que as universidades precisam ou não preencher para se enquadrarem nas listas. Dessa forma, as instituições são pontuadas de acordo com o grau de pertencimento àquelas métricas. Nos três rankings avaliados pela pesquisa, a USP acaba sendo muito pouco representada, pois muitas vezes não está dentro das diretrizes exigidas por eles.

Essa falta de representação pode ser observada na discrepância de colocação entre os rankings avaliados. Enquanto, no QuacquarelliSymonds, a USP está em 120º, no TimesHigherEducationela aparece abaixo da posição 250. A diferença também pode ser observada ano a ano. No QuacquarelliSymonds, ela subiu de 143 para 120 de 2015 a 2016, no TimesHigherEducationela caiu das 250 primeiras para as 300 primeiras nas avaliações 2015-2016 e 2016-2017.

O pesquisador ressalta, porém, que, na América Latina, a USP ainda é a mais beneficiada, por ser a mais próxima do sistema avaliado. Em muitos rankings internacionais, a USP aparece muito à frente das outras universidades latinas.

Mesmo o Ranking Universitário Folha (RUF), responsável por analisar as instituições brasileiras e que possui critérios bem menos exigentes do que os rankings mundiais em questão, ainda estabelece métricas que algumas instituições não atingem. A maior prova disso, é o aparecimento da USP sempre em primeiro lugar (com exceção deste ano, já que a prova Enade entrou como critério e não é realizada pela universidade). “Se você usar as métricas do Shanghai Jiao Tong no Brasil, você só teria uma universidade que apareceria no ranking, porque o resto não é capaz de aparecer na lista, porque não tem um desempenho que é alto suficiente para aparecer nas métricas. Então, para o RUF as métricas são orientadas muito mais baixas para poder captar os dados interessantes sobre o maior número de universidades possível”.

Um grande problema que essas métricas rígidas podem causar é a preocupação das instituições em se adequarem a elas e acabarem perdendo suas diversidades. O esforço para se adequar aos critérios e ser bem posicionada nos rankings pode levar a universidade a utilizar dinheiro que seria mais útil em outras atividades, apenas para atingir a cota de produção científica, por exemplo.

Benchmarking

Como alternativa para essa falta de representatividade da Universidade de São Paulo nos rankings mundiais, Axel-berg sugere a utilização de um conceito chamado benchmarking. Apalavra surgiu em meados da Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos, para determinar a busca por melhores práticas que visam aumentar a competitividade de empresas. A grande vantagem de um benchmarking é permitir determinar quais métricas são mais relevantes e, assim, obter uma comparação mais igual entre as universidades. “Onde se faz um benchmarking você pode controlar o tamanho da instituição, o que eles pretendem fazer ou sua missão. E também pode contar para a diversidade, realmente escolher algo mais personalizado para cada universidade. A gente considera como uma ferramenta de gestão muito mais flexível, muito mais ilustrativa”.

Algo que é muito comum de aparecer nos rankings é a classificação de universidades apenas por suas reputações. A Universidade de Harvard está quase sempre em primeiro lugar nos rankings, justamente porque seu nome atrai prestígio e confiabilidade para aquela lista. Utilizando o benchmarking, o usuário pode determinar que critérios lhe são mais importantes e, dessa forma, obter um resultado mais personalizado, excluindo esses critérios que acabam tornando os rankings suspeitos.

Contudo, Axel-Berg lembra que os rankings também realizam o importante papel de incentivar a transparência e a concorrência. “Rankings podem apresentar benchmarks bem úteis para comparação internacional, são impulsionadores ao aumento de transparência, e criam um ambiente competitivo para que as universidades não se contentem com a sua posição regional”.

O pesquisador termina pontuando que a posição nos rankings deve ser a menor preocupação da USP. “Atualmente, enfrentamos tantos riscos, os rankings apresentam o menor deles. Deveríamos aprender o que podemos sobre a nossa instituição, e como podemos melhorar. O risco de nos tornamos uma universidade obcecada com posicionamento nos rankings é baixo. Corremos um risco maior de voltar as costas para o mundo, e ficar satisfeitos com a nossa posição no Brasil”.

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