Modelo de terapia estudado no ICB encontra novos dados para melhorar tratamento da dor crônica

Ainda que se mostre uma ótima alternativa, esse é um modelo terapêutico para ser usado em conjunto com outros procedimentos médicos

Os resultados obtidos no estudo mostram êxito ao resolver as demandas de pacientes com diabetes [Imagem: Reprodução/Pixabay]

No último mês de abril, a Federação Internacional de Diabetes (IDF) publicou a edição de 2025 do Atlas Mundial da Diabetes . Segundo o relatório, 589 milhões de pessoas de 20 a 79 anos apresentam diabetes ao redor do mundo. O Brasil configura-se em sexto lugar no ranking de países com maior número de quadros da doença, com 16,6 milhões de casos. 

De acordo com dados do levantamento, em 2024, 3,4 milhões de pessoas morreram por conta desse problema de saúde, sendo 111 mil no Brasil. Entre um dos sintomas causados pela diabetes estão as dores crônicas, que podem variar tanto no tipo, como, por exemplo, dor nas costas e joelhos, quanto no nível de intensidade.

No Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), a doutora e mestre em Ciências pelo ICB, Victória Regina da Silva Oliveira, deu início a sua pesquisa, relacionada à neuropatia diabéticas, ainda durante o mestrado no Laboratório de Neuromodulação da Dor, com a orientação da professora Camila Squarzoni Dale. 

A pesquisa começou com Victoria induzindo o quadro da doença em camundongos, por meio da substância estreptozotocina. Após isso, a dor desenvolvida pelo animal, resultado da diabetes, era tratada através da fotobiomodulação (FBM). Também conhecida como fototerapia, esse é um tipo de tratamento não farmacológico que utiliza aplicação de luz — laser ou led — em comprimentos de onda específicos para estimular respostas biológicas nas células. Nesse caso, utilizou-se 660 nanômetros, ou seja, a luz vermelha. 

Esse é um tratamento com alguns estudos já presentes na literatura e que foram bem aceitos [Imagem: Reprodução/Pixabay]
Durante essa fase, foi possível observar a melhora dos animais com a terapia. Após os resultados bem sucedidos em laboratório, o estudo pôde avançar para um modelo de tratamento em humanos. Em parceria com o Hospital Universitário da USP (HU), pacientes diabéticos tiveram a chance de aderir à terapia. “Além de tratar dor, a gente também tratava as pessoas que tinham feridas”, diz Victoria em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN).

Os pacientes precisavam ir ao Hospital duas vezes na semana, durante sete semanas, totalizando 14 aplicações. Como a ideia era fazer uma pesquisa translacional, isto é, estabelecer conexão entre a pesquisa e a inovação, também foi utilizada a luz 660 nanômetros nessa etapa. Isso aconteceu de 2018 até 2023.

Os resultados mostraram a eficiência do tratamento para 75% dos casos de feridas. Além das feridas totalmente cicatrizadas e que permaneceram fechadas pelos próximos seis meses, também houve melhora nos quadros de dores.

Segundo Victoria, quando a dor não sumia totalmente, ela era descrita como mais recessiva e mais branda. “É como se o paciente antes respondesse com uma dor oito e dez, em uma escala onde a gente avalia o nível da dor, e passasse a sentir um dois ou três”, explica. Apesar de em alguns casos a dor não sumir totalmente, apresentou uma melhora significativa. 

A fotobiomodulação é uma ferramenta de terapia que pode ser facilmente implantada no Sistema Público de Saúde. Entre suas vantagens está usar um equipamento de baixo custo comparado com outras terapias e que só precisa ser carregado. “Posso usar o mesmo aparelho em vários pacientes. Aplicar essa luz não causa dor e depende somente da adesão do paciente ao protocolo”, afirma a cientista.

Outro resultado interessante foi observado durante a pesquisa. Ainda que tivessem a mesma doença, neste caso, a diabetes, diferentes grupos de pacientes apresentavam divergência entre os perfis de dor. Isso levantou algumas questões, como a real eficácia do mesmo tratamento para essas diferentes manifestações e o impacto de características fenotípicas, ou seja,os traços genéticos, no desenvolvimento dos quadros clínicos. Essas dúvidas são parte da análise do pós-doc de Victória.

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