Pesquisador da USP alerta sobre impacto do colapso das correntes do Atlântico na Amazônia

[Imagem: Reprodução/Freepik]

A interação entre a Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico (Amoc) e a Amazônia, um dos maiores biomas do planeta, pode ser mais complexa e preocupante do que se pensava. Em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN), Thomas Akabane, doutorando do Instituto de Geociências da USP, explicou os principais achados de seu estudo recente, que analisa como o enfraquecimento dessa corrente oceânica pode transformar a floresta tropical e impactar o clima global. 

A Amoc, sistema que transporta calor entre os trópicos e o Atlântico Norte, tem apresentado sinais de enfraquecimento. “Há uma alta confiança de que essa desaceleração se intensifique até o fim do século, potencialmente alterando padrões climáticos no Brasil e em todo o hemisfério sul”, afirma Akabane. Um dos efeitos diretos seria a migração das chuvas tropicais para o sul, causando secas severas no norte da Amazônia e aumento da precipitação no sul, que tem áreas extremamente desmatadas.

O estudo, que analisou eventos climáticos abruptos ocorridos há cerca de 18 mil anos, apontou que, em situações semelhantes no passado, a Floresta Amazônica conseguiu se adaptar. Contudo, o cenário atual é diferente. “A Floresta Amazônica foi resiliente a mudanças naturais no passado, mas hoje o desmatamento e outras pressões humanas tornam esse bioma menos capaz de resistir às mudanças climáticas induzidas pelo homem”, alerta. 

Akabane enfatiza que a combinação de desmatamento no sul e leste da Amazônia com a diminuição de chuvas no norte pode levar ao colapso do bioma, agravando a crise climática. Ele reforça a importância de políticas públicas como a demarcação de terras indígenas e o combate ao desmatamento ilegal. “Terras indígenas são essenciais para a preservação, pois perderam menos de 1% da vegetação nos últimos 30 anos, enquanto áreas privadas tiveram desmatamento de até 20%.” 

A pesquisa também aponta que as ações individuais e coletivas são fundamentais para mitigar os impactos. “Mudanças climáticas e sociais estão interligadas. A preservação da Amazônia é crucial não só para as populações locais, mas para todos os brasileiros, já que ela regula o clima e sustenta serviços ecológicos indispensáveis”, conclui Akabane. 

Com suas descobertas, o pesquisador destaca a necessidade de monitorar de perto essas interações climáticas e agir de forma imediata para preservar a Amazônia, reduzindo os riscos de um colapso ambiental de proporções globais.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*