Pesquisa avalia a vulnerabilidade de geossítios da Bacia de Taubaté

Pontos de relevância geológica da região são afetados pela interferência humana e pelo intemperismo químico e necessitam de métodos de preservação

Cavas na Bacia de Taubaté. Imagem: Sindicato dos Químicos de São José do Rio Preto e região

Fernanda Coyado Reverte, em seu doutorado em andamento no Instituto de Geociências da USP, realizou o inventário do patrimônio geológico de valor científico da Bacia de Taubaté, em São Paulo, para quantificar o grau de vulnerabilidade dos geossítios da área. O objetivo é que seja possível amenizar os impactos naturais e os causados pela ação humana na região, que abrange 11 municípios e que está inserida no contexto de estudo da evolução do supercontinente Gondwana.

A Bacia de Taubaté, como explica a pesquisadora, é naturalmente frágil. As rochas que a constituem são do tipo sedimentar, ou seja, formadas pela deposição de partículas originadas pela erosão de outras rochas, que podem estar associados a sedimentos de origem biogênica  e, consequentemente, mais frágeis do que rochas ígneas, por exemplo. Essa fragilidade é intensificada pelas condições naturais do país: “O Brasil é um país tropical, com um intemperismo químico muito severo. Por conta disso, os afloramentos são afetados de forma irreversível”, explica Fernanda.

Contudo, de acordo com ela, há também a questão da vulnerabilidade da área. “A Bacia, exposta a diversas ameaças antrópicas por estar em um local de frequente transformação, é muito vulnerável”, afirma. Além das constantes obras de infraestrutura ao longo da  rodovia Presidente Dutra e entorno, a região também faz parte de zonas de mineração no leito  do Rio Paraíba do Sul. “A mineração abre cavas que, quando desativadas, não passam por um processo de recuperação como deveriam, acelerando o processo de intemperismo”, diz a doutoranda.

Esses fatores — tanto a fragilidade quanto a vulnerabilidade às quais a Bacia de Taubaté está sujeita — afetam o patrimônio geológico  da área, ou seja, os pontos de interesse geológico. Ao longo da área de cerca de 2400 quilômetros quadrados, existem locais caracterizados como geossítios pela pesquisadora por conterem registros de valor científico e que devem ser preservados. “Na Geologia fazemos muitas pesquisas em campo em beiras de estrada para ver afloramentos. Existem vários pontos dentro da Bacia que são visitados pelos alunos do Instituto de Geociências em excursões porque registram algo importante ao ensino de Geociências”, a pesquisadora ressalta. Vários desses pontos, no entanto, estão intemperizados e podem desaparecer devido a construções no local, por exemplo.

Na próxima fase de sua pesquisa, Fernanda desenvolverá uma metodologia para avaliar as áreas vulneráveis. Nesta etapa, um desafio será definir quais geossítios serão incluídos, uma vez que alguns já não existem mais por conta do intemperismo, enquanto outros provavelmente serão destruídos com a construção do aeroporto de Caçapava, que está em andamento. “Estou definindo se os pontos que não existem mais farão parte do inventário ou se apenas serão inseridos os que existem hoje, nos quais podemos aplicar mecanismos de preservação”.

Valor científico

A formação da Bacia de Taubaté está relacionada a uma fase mais recente do contexto geológico de evolução do supercontinente Gondwana, associando-se ao evento de abertura do oceano Atlântico Sul. Com a separação dos continentes Americano e Africano, houve o surgimento de um rift — isto é, uma depressão — entre as Serras da Mantiqueira e do Mar. Neste rift é formado por várias bacias e a maior delas é a de Taubaté, que representa um local-chave para o entendimento dos eventos da história geológica do planeta ocorridos no pós-Gondwana.

Além disso, por ser uma bacia sedimentar, a área é importante para os estudos paleontológicos. Nela, podem ser encontrados em abundância estruturas e fósseis de animais extintos. Um dos fósseis descobertos no local foi o de uma ave carnívora de quase dois metros, o Paraphysornis brasiliensis, em 1982, que deu início ao Museu de História Natural de Taubaté.

Fóssil encontrado na Bacia de Taubaté. Imagem: Fernanda Coyado Reverte

Por conta dessa importância científica da região, há a necessidade de mecanismos de preservação, para que os eventos que a Bacia de Taubaté registra possam continuar a serem estudados. Sem a preservação das áreas vulneráveis, aponta Fernanda, é possível que estruturas ainda visíveis na Bacia deixem de existir em alguns anos. “A ideia é tentar preservar esses registros para que as pessoas continuem tendo acesso a eles. Se os registros da Bacia de Taubaté desaparecerem, eles ainda estarão nos livros, mas onde os alunos poderão vê-los e estudá-los in situ?”.

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