
Um projeto desenvolvido na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) busca restaurar e catalogar o arquivo de Tunica Teixeira, uma das mais importantes sonoplastas do teatro brasileiro, ainda pouco reconhecida pelo grande público.
Falecida em 2019, Maria Antônia Teixeira Ferreira, conhecida como Tunica Teixeira, desempenhou um papel essencial na construção da história do teatro no Brasil. Ao lado de nomes como Antônio Abujamra e Bibi Ferreira, ela foi responsável por criar as atmosferas sonoras que marcaram algumas das maiores peças encenadas no teatro paulistano.
Para resgatar e preservar suas contribuições, a pesquisadora Rafaella Uhiara, doutora em Artes Cênicas e membro do Centro de Documentação Teatral (CDT) da ECA lidera o projeto de restauração e catalogação do vasto acervo deixado por Tunica. Uhiara destaca que a iniciativa nasceu da necessidade de valorizar a sonoplastia, um aspecto muitas vezes negligenciado nas análises sobre teatro.
“Quando pensamos na história do teatro, normalmente lembramos de diretores, dramaturgos e atores, mas esquecemos do som, que é uma parte essencial de qualquer espetáculo. Estudar a
obra de Tunica é resgatar um capítulo extremamente relevante do teatro brasileiro”, afirma a pesquisadora.
Esse é o primeiro projeto no Brasil dedicado ao estudo do acervo de uma sonoplasta e um dos poucos no mundo com esse foco. A inspiração veio de uma iniciativa semelhante desenvolvida pela Universidade Sorbonne, na França, que serviu de guia para a equipe brasileira.
Com uma carreira de 48 anos, Tunica trabalhou com praticamente todas as tecnologias de sonoplastia disponíveis ao longo do século 20, de rolos de filme e fitas cassete até CDs.
Entretanto, a restauração do material enfrenta desafios, como a deterioração dos suportes físicos e a dificuldade em encontrar equipamentos para reproduzi-los.
“Ainda que o acervo de Tunica esteja bem organizado, com fichários detalhados sobre cada produção, muitos arquivos estão danificados. Alguns CDs, por exemplo, estão quase irreparáveis, e parte do nosso esforço está em recuperar esses registros”, explica Uhiara.
O projeto está estruturado em quatro eixos principais: a construção de um léxico específico para a sonoplastia, já que a área carece de um vocabulário técnico no Brasil; a análise do processo criativo de Tunica, investigando como ela desenvolvia suas obras sonoras; além do estudo arquivístico e da aplicação prática do acervo.
Além de preservar o legado de Tunica, o projeto busca dar visibilidade à sonoplastia, uma arte fundamental para a dramaturgia, mas frequentemente relegada ao segundo plano. “A
história da sonoplastia, hoje, é basicamente oral, passada entre técnicos e seus aprendizes. Queremos trazer essa arte para o ambiente acadêmico e dar a ela o reconhecimento que
merece.”
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