Com precisão e interatividade, projeto analisa costa de São Sebastião

Em sua dissertação de mestrado, Karina Ibanez avança no geomapeamento do Brasil

Imagem: Reprodução

Tanto o mapeamento geológico, usado como forma de preservação de patrimônio natural, quanto a própria “geopreservação” e “geoeducação” são áreas relativamente novas no mundo das geociências, ainda mais no Brasil. Foi apenas em 2012 que o Instituto de Geociências começou a trabalhar diretamente nesses assuntos, através do grupo de pesquisa Geohereditas, fundado pela professora Maria Glória Garcia, que uniu alunos de geologia e educação ambiental em volta desses mesmos temas. Mesmo assim, nos dias de hoje essas áreas têm visto constante crescimento e ganharam grande importância dentro do Instituto.

Nessa crescente onda de trabalho, a pesquisadora do Geohereditas Karina Ibanez apresentou sua dissertação de mestrado à banca do IGc. Seu objetivo era atualizar e aprimorar o mapeamento da região geológica de São Sebastião, município próximo à fronteira São Paulo-Rio de Janeiro. Mesmo que incluindo uma das reservas naturais mais populares ao turismo em ambos os estados, o Parque Estadual da Serra do Mar, a região viu pouca atenção por parte de geólogos, recebendo apenas análises básicas dos tipos de rocha e mapeamentos menos detalhados por parte do Inventário Geral de Bens do Serviço Geológico (projeto elaborado pelo Serviço Geológico Brasileiro).

“Mesmo sendo um local chave para entender a geologia tanto de São Paulo quanto do Rio de Janeiro, com uma alta preservação das rochas, a região tem poucos trabalhos de geologia. É um lugar que merece maior atenção”, explica Karina. Por isso, seu trabalho tratou do aprofundamento da coleta de dados sobre uma série de sítios geológicos selecionados da região. Através da descrição detalhada de estruturas e a coleta de amostras para análise em laboratório, foi possível datar e categorizar rochas presentes na região, catalogando as especificidades de cada costão, como sua formação e composição.

Além de seu caráter mais acadêmico, a pesquisa também desenvolveu um projeto interativo bastante inovador nesse ramo de pesquisa. Nos últimos anos, com o aumento da importância e verba do Geohereditas, houve um maior investimento na área de educação ambiental através de passeios virtuais pelas áreas pesquisadas. Utilizando drones e câmeras de 360 graus, é possível a elaboração de programas interativos que exploram regiões pouco acessíveis ou conhecidas pelo público geral, algo que apenas recentemente vem aparecendo no contexto do turismo de parques no Brasil.

“Apenas agora, o Serviço Geológico do Brasil, entre outras organizações, estão começando a trazer a abordagem do geoturismo ao seu trabalho”, explica Karina. “Alguns projetos recentes estão começando a produzir experiências como os passeios virtuais em parques nacionais também.”

Screenshot do passeio virtual, cada círculo na tela indica uma explicação sobre a geologia do local (Reprodução/Site do Geohereditas)

Assim, o projeto “Geodiversidade e Geopratimônio da Serra do Mar: um passeio pelos geossítios de São Sebastião”, produzido em conjunto à dissertação, se trata de um passeio interativo completo pelas praias de São Sebastião. Contendo explicações detalhadas sobre a sua formação geológica, modelos 3D de sessões do costão rochoso e panorâmicas de toda a região costeira do município, Karina espera que o parque estadual possa utilizar seu projeto para atrair e educar futuros turistas. Em breve, o passeio estará disponível no site do Geohereditas e no site da Fundação Florestal. Segundo Karina, “O objetivo é ampliar o conhecimento sobre esse local, tanto para as comunidades locais e turistas, quanto para os círculos acadêmicos”. 

A região de São Sebastião em específico se encontra relativamente preservada, por fazer parte de um parque estadual e conter majoritariamente rochas resistentes à erosão. Porém, é importante que trabalhos similares sejam feitos em demais regiões do país, em que a estrutura geológica pode não ser tão bem preservada devido ao aumento de ação humana, ou desastres naturais, como enchentes, que podem trazer danos a patrimônios geológicos, assim como ecológicos.

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