Um estudo da Faculdade de Odontologia da USP (FO) concluiu que o atendimento odontológico não presencial pode resolver necessidades de pacientes pediátricos. O trabalho foi feito entre 2020 e 2023, com crianças que não podiam ir à clínica móvel da instituição durante a pandemia de Covid-19.
Durante a pesquisa, 57% dos jovens relataram que pelo menos um de seus problemas foi solucionado com o uso da teleodontologia. Demandas relacionadas ao acolhimento do paciente foram sanadas em 93% dos casos, enquanto aquelas que indicaram a realização de um procedimento presencial (como cirurgias, por exemplo) foram solucionadas em 63% das ocasiões.
O estudo envolveu 375 jovens de comunidades da Grande São Paulo. Desses, 328 foram atendidos por meio da plataforma V4H (Video For Health), desenvolvida pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e adaptada por pesquisadores da FO. Duas semanas após a consulta, cada paciente foi entrevistado para saber se seus problemas tinham sido resolvidos.
Para a professora Maine Skelton, uma das responsáveis pela pesquisa, entre as conclusões do trabalho está a de que a teleodontologia pode ajudar a melhorar o sistema público de saúde. Em sua opinião, a modalidade pode ser uma solução para as desistências de consultas. “Às vezes o paciente está há muito tempo na fila. Aí, quando é chamado, acha que o problema já está resolvido e não vai”, explica.
Na visão da professora, o atendimento não presencial permite evitar os custos da viagem à clínica e fazer um monitoramento durante o período de espera por uma consulta para detectar possíveis novas demandas. “[Com a teleodontologia], você consegue fazer com que o paciente entenda que, quando ele vier, vai ser atendido naquilo que precisa”.
Dificuldades socioeconômicas
O estudo também concluiu que a condição financeira dos pais influencia na adaptação das crianças às consultas pela internet. Ao longo de sua realização, mães com mais de 8 anos de escolaridade apresentaram maior chance de resolver os problemas de seus filhos que as com menos de 8 anos.
Maine Skelton aponta que esse dado pode ser explicado pela falta de acesso à tecnologia entre a população mais carente, um fator que deve ser investigado pelo governo. “É preciso fazer um levantamento junto aos agentes de saúde para verificar quem tem equipamentos e que custo teria para o Estado trabalhar a questão da conectividade”, comenta.
A pesquisa Teleodontologia para resolução de demandas reprimidas de pacientes pediátricos: um estudo na pandemia do COVID-19 foi publicada na revista científica Brazilian Oral Research. Ela foi coordenada pela professoras Mariana Minatel Braga, Fernanda Carrer e Maine Skelton, da Faculdade de Odontologia da USP.
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