Brasil se torna membro associado do Cern, o maior laboratório de física nuclear do mundo

Após 14 anos, o Brasil finalmente passou a ser parte do Cern. Conheça mais o Laboratório e entenda as repercussões da adesão nacional a ele

Experimento Atlas, conduzido no Cern

O Brasil finalizou, no dia 22 de março deste ano, o processo que firma sua posição enquanto membro associado do maior laboratório de física da atualidade, o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern). Foram cerca de quatro décadas contribuindo com os experimentos e pesquisas da organização, por meio de instituições associadas, como a Universidade de São Paulo (USP) — através do Instituto de Física (IF) — até que a parceria fosse, de fato, formalizada. Agora que o processo foi encaminhado, a ciência nacional e os pesquisadores da Universidade têm muito a ganhar com a adesão.

A história do Cern

O Cern se destaca como uma instituição revolucionária em inovação e descoberta desde sua fundação, em 1954, na comuna de Meyrin — localizada na fronteira Franco-Suíça. Foi berço de tecnologias que vão desde o Touch Screen, aderido por toda a indústria dos smartphones, até o protocolo “World Wide Web”, mais conhecido como o famoso “www” que compõe o endereço dos sites e garante a interconexão global de informações.

Apesar de ter sido criado enquanto um laboratório exclusivamente europeu, o Centro de Pesquisa, com o passar dos anos, abriu-se para a colaboração científica global. Hoje, possui mais de dez mil físicos de todo o mundo, como explica Marcelo Munhoz, pesquisador do IF que coordena a equipe da USP no Alice – um dos experimentos que compõem o Large Hadron Collider (LHC), o mais poderoso acelerador de partículas atual – do Cern: “A colaboração internacional se tornou um dos pilares da Organização. Eles valorizam muito essa troca entre povos do mundo. Existe alguém de praticamente todos os países do globo fazendo pesquisa no Cern.”

O reator de partículas Alice, no Cern (Domínio público/Wikimedia Commons)

O Cern e o Brasil 

Desde meados da década 1980, a pesquisa nacional já se fazia presente no Cern, por meio da contribuição dos cientistas do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Mas foi somente em 2010 que a organização de fato criou a categoria de “membro associado”, visando tornar mais substancial a colaboração que recebia dos países não europeus. O Brasil logo se interessou pela oportunidade e iniciou, naquele mesmo ano, as negociações com o Cern. Sua nomeação enquanto tal, por outro lado, foi acontecer somente 14 anos depois, em março de 2024.

Mudanças para o Brasil

O Cern, para se manter financeiramente enquanto organização, depende da contribuição monetária dos países que o compõem. E o Brasil, até o momento, apesar de sua colaboração através de pesquisas e experimentos, nunca havia se comprometido em ajudar com a infraestrutura direta do laboratório. Essa, talvez, seja a principal mudança que acompanha a adesão do país enquanto Membro Associado. 

A partir de agora, o Governo Brasileiro terá a responsabilidade de contribuir, anualmente, com um valor que gira em torno de US$12 milhões ao laboratório. Longe de ser um simples gasto, tal aporte carrega  os benefícios necessários para ser um assertivo investimento na ciência e na economia nacional. “O Cern tem um princípio de sempre gastar os recursos pagos por um país com o próprio país. Se o Brasil deu US$12 milhões de dólares à Organização, quando ela precisar contratar serviços e profissionais, é ao Brasil e às suas universidades e indústrias que ela irá recorrer”, Munhoz explica.

Se, antes, os profissionais do país não podiam se candidatar às vagas disponibilizadas pelo Cern e as empresas brasileiras pouco possuíam oportunidades de cooperar com o Laboratório, agora, o cenário é muito diferente. Já existem, na própria organização, pessoas dedicadas a  facilitar a participação de empresas nacionais nos editais e licitações ali promovidos.

Mudanças para o Cern

Como é de se esperar, não são todos os países que podem fazer parte do Cern. O processo de seleção dos membros associados é cauteloso e existem diversos fatores que voltaram os olhos do laboratório ao território nacional. Um dos principais pontos a serem destacados, certamente, é a existência de pesquisadores brasileiros que, há anos, já são extremamente ativos e produtivos no Centro, desde quando as relações entre o país e a organização eram ainda muito tímidas. No caso da USP, destacam-se os trabalhos produzidos com os projetos Atlas, Alice, e a rede LHCONE, que, integrada pelo Grupo de Íons Pesados Relativísticos do IF, trabalha na infraestrutura do Large Hadron Collider. Para Munhoz, “essa comunidade de físicos, inclusive nós, do próprio IF, foi o que colocou o Brasil no mapa do Cern e despertou esse interesse. Se não fosse por isso, o Cern nem saberia que o Brasil existe”. 

Além disso, o país também possui uma indústria tecnológica muito bem consolidada. Um exemplo está no Sirius, um acelerador de partículas do CNPEM. Inaugurado em 2020 com uma pesquisa do IF de São Carlos (USP), teve 80% de sua produção no Brasil e, extremamente cobiçado pelo Cern, figurou como uma peça fundamental no convencimento do Laboratório quanto à competência da ciência nacional.

Laboratório Sirius, localizado em Construção – SP, ainda em construção (Domínio Público/Flickr)

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